
24 de maio de 2012 | 09h53
"De Um ou de Nenhum", texto de Luigi Pirandello inédito no Brasil que o Grupo Tapa encena a partir desta quinta no Teatro Cacilda Becker, chega aos dias de hoje, em que exames de DNA são feitos em programas de auditório, com um misto de passado e atemporalidade. Se por um lado a questão da identidade paterna fosse facilmente solúvel no mundo atual, a questão humana fundamental permanece como um enigma profundo. Como fica o pacto de liberdade estabelecido entre os três?
"Pirandello trata, nesse texto inesperado, das rasteiras que a vida nos dá", afirma o diretor Eduardo Tolentino de Araújo. "Não são rasteiras morais. É a constatação de que não calculamos tudo. Todos estamos sujeitos a sentir ciúme, e isso não estava planejado. Como ficam as máscaras? Joga-se fora toda a teoria que se colocou como verdadeira?"
A escolha desse texto, de 1929, está inserida em um arco que o Tapa vem traçando nos últimos anos. Pirandello, prêmio Nobel de Literatura em 1934, é um dos três autores a que o grupo tem dirigido o olhar, ao lado de August Strindberg ("Camaradagem" e "Os Credores") e Tennessee Williams ("Alguns Blues do Tennessee"). Além da montagem de "O Amargo Siciliano", que já passou por São Paulo em diferentes versões, o grupo também tem na agulha uma encenação de "Vestir os Nus", que ainda não foi apresentada, aqui, na cidade.
"De Um ou de Nenhum" é parte do estudo que o Tapa vem fazendo do melodrama, seus aspectos e procedimentos. "Pirandello trabalha nas origens do melodrama italiano", avalia Tolentino. "Só que ele faz isso lançando uma luz de autópsia. É um intelectual que olha para suas próprias raízes culturais, no que se aproxima de Nelson Rodrigues, mas que analisa isso de fora, ainda que apaixonadamente."
Ele também destaca a importância desta nova geração do grupo que vem aparecendo. "São atores que estavam entrando aos poucos, fazendo substituições", explica. Essa talvez seja uma das explicações fundamentais para a longevidade do Tapa. Uma trajetória não só extensa ? iniciada em 1979 no Rio e marcada pela mudança para São Paulo em 1986 ?, como marcada pelo rigor estético, compromisso com valores éticos e políticos e perene preocupação com a formação de público. "Penso que esse constante diálogo de gerações, tanto nas salas de ensaio como nas oficinas e cursos do grupo, é essencial para estarmos aí nesse tempo todo", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
DE UM OU DE NENHUM
Teatro Cacilda Becker (Rua Tito, 295, Lapa). Telefone (011) 3864-4513.
5ª a sáb., às 21 h; dom., às 19 h. R$ 20. Até 1/7.
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