
07 de março de 2014 | 23h22
O homem que vive plugado, conectado, na estrita dependência de equipamentos e máquinas talvez não seja mais humano. Talvez seja um novo humano. Ainda carente de uma ontologia que dê conta de sua complexidade. Com o projeto E Se Fez a Humanidade Ciborgue em 7 Dias, o grupo Satyros esmiúça a questão em sete diferentes espetáculos.
Hoje, eles serão apresentados todos juntos. Uma maratona que terá duração de 9 horas e começa às 16 h. Já nos outros dias, as peças poderão ser vistas separadamente. Uma em cada dia da semana. O programa marca os 25 anos de trajetória do grupo – um dos mais importantes da cidade e responsáveis pela revitalização da Praça Roosevelt.
Com E Se Fez a Humanidade Ciborgue em 7 Dias, a companhia aprofunda questões que já apareciam em seus espetáculos anteriores. Em Hipóteses Sobre o Amor e a Verdade, os espectadores eram instados a deixar seus celulares ligados durante a encenação. As manifestações tecnológicas foram tomadas como uma amarra em torno da qual se desenvolviam várias histórias.
Para criar as sete montagens que compõem o projeto atual, o grupo se debruçou sobre diferentes aspectos da relação do homem com o universo tecnológico. “Nossos corpos foram modificados por próteses, manipulações genéticas, aparatos tecnológicos. Não somos mais aqueles que éramos até o século 19. Somos humanos expandidos”, argumenta Rodolfo García Vázquez, que assina a coordenação do ciclo. “Os ciborgues não são coisa de ficção científica. Eles já existem e estão por aí.”
Se vistos em conjuntos, os espetáculos parecem oferecer uma espécie de “Bíblia” para esse nova espécie, com mandamentos que deem conta dos dilemas do “homem ciborgue”: há desde o Não Amarás – sobre as relações afetivas que já surgem mediadas por programas de computador e telefonia – até o Não Vencerás, debruçado sobre as atuais configurações de poder: nos voláteis fluxos financeiros, nos ataques dos hackers ou nos atentados terroristas. Uma sociedade que se vê regida por figuras sem rosto, forças invisíveis e incontroláveis.
Na tentativa de desbravar esse mundo inexplorado, o grupo não esteve sozinho. Para balizar as produções, contou com textos e reflexões de especialistas em diversas áreas dos conhecimento que serviram de “provocação”. Entrevistas também ajudaram a equipe a desenvolver a obra. Os black blocs detalharam seu ideário. Viciados em sexo pela internet também trouxeram seus depoimentos.
“Mas essa não é uma dramaturgia só do texto”, ressalva García Vázquez. O corpo dos intérpretes entrou nessa investigação. Também serviram de esteio suportes eletrônicos, além de robôs criados especialmente para a montagem.
Em Não Saberás, um experimento científico mostra como um ator é capaz de gerar energia elétrica. Em Não Fornicarás, as incontáveis possibilidades do sexo são exploradas com bonecas de plástico, próteses e sites pornográficos. Haverá também, prometem os criadores, uma cena de sexo explícito ao vivo. “Mas não sexo da maneira como conhecemos”, avisa o ator Ivam Cabral.
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