Grupo falsifica New York Times e anuncia fim da guerra do Iraque

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Por MICHELLE NICHOLS
Atualização:

Um grupo de zombeteiros distribuiu na quarta-feira mais de 1,2 milhão de exemplares falsos do jornal The New York Times, especialmente em Nova York e Los Angeles. "Termina a guerra do Iraque", era a manchete da edição, datada de 4 de julho de 2009. O material bem produzido, com 14 páginas, é supostamente obra de um grupo chamado Yes Men, cujos integrantes já se fizeram passar por funcionários da Organização Mundial do Comércio e anunciaram o fim da entidade. "É falso e estamos investigando", disse Catherine Mathis, porta-voz do NYT. Uma nota distribuída por um site criado para essa edição (www.nytimes-se.com) disse que o jornal levou seis meses para ser feito, e que a impressão aconteceu em seis gráficas. A distribuição ficou a cargo de milhares de voluntários. "Temos de garantir que (o presidente-eleito dos EUA, Barack) Obama e outros democratas façam aquilo para que foram eleitos", disse Bertha Suttner, que se apresenta na nota como um dos autores do jornal. "Após oito, talvez 28 anos de inferno (desde a eleição de George W. Bush e Ronald Reagan, respectivamente), precisamos começar a imaginar o céu." Na capa do jornal, o tradicional slogan do NYT - "Todas as notícias que vale publicar" - virou "Todas as notícias que esperamos publicar". Uma das notícias destacadas na capa diz o seguinte: "A ex-secretária de Estado Condoleezza Rice garantiu aos soldados que o governo Bush sabia desde bem antes da invasão que Saddam Hussein carecia de armas de destruição em massa". A suposta existência de tais armas -- hoje descartada -- foi o principal argumento do governo de George W. Bush para invadir o Iraque e depor o ditador Saddam Hussein em 2003. Outros títulos da primeira página dizem: "Aprovada lei do salário máximo"; "Nacionalizado, petróleo vai financiar esforços contra a mudança climática"; "Nação volta seus olhos para a construção de uma economia saudável". Na página 3, um anúncio de página inteira - também falso -- diz que a ExxonMobil celebra o fim da guerra do Iraque e que a paz é "uma idéia com a qual o mundo pode lucrar". A ExxonMobil, com grandes interesses no Iraque pós-Saddam, é a maior empresa de capital aberto do setor global do petróleo. Num panfleto distribuído aos voluntários que apanharam exemplares para distribuir, havia uma seção de "Perguntas Freqüentes". Sobre "quem fez isso", a resposta é "quem sabe?. Há rumores de que o responsável seja um grupo de redatores de vários jornais tradicionais -- inclusive o The New York Times." Os Yes Men, retratados em um livro e um documentário em 2004, também já se fizeram passar por executivos da ExxonMobil e do Conselho Nacional do Petróleo para discursar numa conferência canadense sobre o petróleo. Em outra ocasião, se disfarçaram de agentes do órgão federal de habitação e prometeram, num evento diante do prefeito de Nova Orleans e do governador da Louisiana, liberar residências públicas abandonadas para milhares de habitantes pobres da cidade. Mas eles não são os primeiros a falsificar o NYT. Segundo o blog "City Room", ligado ao próprio jornal, o caso mais famoso ocorreu durante uma greve de jornalistas em 1978, e envolveu nomes como o repórter investigativo Carl Bernstein, o escritor Christopher Cerf, o humorista Tony Hendra e o editor da Paris Review, George Plimpton.

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