Grupo encena 19 peças de Beckett

Beckett em Dois Atos marcar os 13 anos da morte do autor. Trata-se da primeira fase do projeto Repertório Beckett, que prevê a representação de 19 de suas peças

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Por Agencia Estado
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O dramaturgo Samuel Beckett, que sempre se incomodou com a morte a ponto de torná-la aspecto essencial em sua obra, morreu há 13 anos, mais precisamente no dia 22 de dezembro de 1989. Para marcar a data, o diretor Lenerson Polonini vai encerrar no domingo, em São Paulo, a primeira fase do projeto Repertório Beckett, que prevê a encenação das 19 peças do autor. São quatro pequenos textos, que começam a ser encenados a partir de amanhã, no Teatro Plínio Marcos, com o título Beckett em Dois Atos. Vaivém, escrita em 1965, questiona a relação humana por meio de três mulheres, presas em suas memórias, nas quais não há um tempo ou espaço determinado. Ato sem Palavras 1, de 1956, tem como tema a solidão: um homem, que é lançado a contragosto no deserto, levanta-se e põe-se a refletir. Já Ato sem Palavras 2, de 1959, apresenta a relação de dois homens, A e B, que vivem dentro de sacos, sobre uma plataforma incômoda e muito iluminada. E Aquela Vez, escrita entre 1974 e 75, mostra em cena apenas o rosto de um homem velho, com longos cabelos brancos, e com uma respiração rouca. "São textos que apresentam diversas metáforas, como a do homem que vive sem um deus", comenta Polonini, um jovem de 23 anos que há sete se debruça sobre a obra de Beckett. Foi uma montagem de Ato sem Palavras 1 que o despertou para as peças do dramaturgo irlandês, iniciando um meticuloso trabalho de pesquisa tanto de texto como de direção. Polonini leu obras capitais, como Ulisses e A Divina Comédia, para ampliar seu entendimento. Em seguida, montou a Companhia Nova de Teatro Moderno da Cooperativa Paulista de Teatro para, no ano passado, encenar o Ato sem Palavras 1 e 2. Julgou o resultado insatisfatório, pois caiu na mesma armadilha que outros diretores menos familiarizados com a obra de Beckett: acrescentou textos indevidos que acabaram criando imagens distantes das pretendidas pelo autor. "Especialmente em suas peças curtas, Beckett via as palavras como fragmentos de sua própria visão de mundo", comenta. "Ele é um grande autor justamente por ser sintético." Além de refazer a essência das primeiras montagens (as imagens agora são apenas as indicadas pelas rubricas de Beckett), Lenerson Polonini acrescentou mais dois textos, compondo a primeira fase do repertório. Para o próximo ano, prevê a encenação de Cadeira de Balanço (que mostra os últimos 25 minutos de vida de uma idosa), Improviso em Ohio, A Comédia, Eu não e A Catástrofe, além de Respiração, peça de apenas 30 segundos sobre o nascimento e que será apresentada como peça-instalação, no que vai contar com o auxílio do artista plástico Otávio Damassin. "Espero que os atores sejam seduzidos pelo mistério beckettiano e assim descubram o melhor caminho da interpretação." A distribuição em programas e as datas ainda não foram definidas, pois o diretor e sua companhia vão participar do projeto Viagem Teatral, patrocinado pelo Sesi e que vai levar o repertório para 11 cidades do interior paulista. "Será uma oportunidade única para apresentar a obra de Beckett para um público que dificilmente tem essa chance", comenta Polonini, que planeja para 2004 a encenação dos títulos mais conhecidos do autor, como Esperando Godot, Fim de Jogo, Dias Felizes e A Última Gravação. Serviço - Projeto Mutirão. De amanhã a sábado, às 21 h; domingo, às 20 h. ´Repertório Beckett - Beckett em Dois Atos´. Dir. Lenerson Polonini. Duração: 70 min. R$ 12. Teatro Plínio Marcos. Rua Clélia, 33, em São Paulo, tel. (11) 3864-3129. Até domingo.

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