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Grupo de Valência encerra Filo 2001

O dramaturgo argentino Aristides Vargas assina o texto de La Casa de Rigoberta Mira al Sur, numa belíssima encenação do Grupo de Teatro Justo Rufino Garay, da Nicarágua, uma das melhores apresentações do Filo 2001

Por Agencia Estado
Atualização:

Termina nesta quinta-feira o Festival Internacional de Londrina, o Filo 2001, iniciado no dia 1.º de maio com a Mostra Sul de Teatro, reunindo grupos do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Companhias de 11 países, entre eles Suíça, França, Polônia e Nicarágua participaram da mostra internacional que começou no dia 19 e teve sua fase final marcada pela presença espanhola. Três companhias chegaram da Espanha na segunda-feira para ocupar teatros e ruas na última semana de festival. De Barcelona vieram os espetáculos The Kisser Barbie solo com a atriz Sol Picó, e Bailamos?, da Companhia Sêmola Teatre. Esta última, criada há 22 anos, já apresentou em São Paulo, com elogios de crítica e público, o espetáculo In Concert. E, de Valência, veio o grupo Teatre de L´Ull que encerra amanhã a programação do Filo 2001. Em sua primeira viagem ao Brasil, os 14 integrantes do Teatre de L´Ull trouxeram dois espetáculos a Londrina. "Completamente diferentes um do outro", ressalta o diretor Fernando Granelli. O primeiro a ganhar as ruas da cidade, Foc y Canya inspirou-se numa espécie de carnaval mediterrâneo, realizado em pleno verão, na noite de São João, quando fogueiras são acesas na praia. "Nesse espetáculo não contamos uma história. Trata-se de um ritual de celebração coletiva, no qual o fogo é o principal elemento", diz o produtor Ferran Benavent. "É um espetáculo que depende do contato direto e transforma-se de acordo com a reação do público", explica Granelli. Na verdade, Foc y Canya parece ser uma isca, que seduz o público para o denso, violento e poético La Balada de les Bsties. "Costumo chamar esse espetáculo de um conto cruel", diz Granelli, também autor do argumento. Na rua, os atores dividem-se entre humanos e bestas. Começa aí uma perseguição implacável cujo objetivo é a eliminação das bestas. "Trabalhamos sobre imagens arquetípicas, trazidas de um medo do passado, o medo dos animais que vinham das florestas. Mas todos sabemos que, atualmente, essas bestas são outros seres humanos." Alicia Navajas, também atriz, criou uma coreografia para o grupo que embora utilize técnicas circenses é avesso a malabarismos. "Nossa estética em Les Bsties é minimalista", define Granelli. "Utilizamos pernas de pau para ficarmos mais altos, não fazemos brincadeiras. Nada de efeito pelo efeito. Todos os recursos são utilizados dramaticamente", explica Yevyeni Mayorga, um dos dez atores da companhia. Ele é quem lidera a orda popular em Foc y Canya. Em comum, os dois espetáculos mostram seres "diferentes", sejam bufões ou bestas e querem estimular a tolerância. A intolerância está igualmente em foco em Bailamos?, espetáculo de palco, com texto e direção do catalão Joan Grau. Toda a ação se passa numa única noite, dentro e em torno de um carro parado diante de uma cancela, pouco antes da passagem de ano. A história é simples e um tanto macabra. Uma mulher suicidou-se e, no bilhete final, pediu que seu marido jogasse suas cinzas num determinado local em companhia de seu ex-marido. Assim, quando a peça começa, o viúvo interpretado pelo argentino Nestor Sanz está no carro com o ex-marido de sua mulher (o holandês Egbert de Jong) e a atual mulher dele (Fina Solá), em silêncio, esperando a liberação da passagem no cruzamento com o trem. "O ex-marido é um sujeito frívolo e rude, tem uma festa para ir e, por isso, irrita-se cada vez mais com aquela situação. Ele briga com a mulher, um tanto vulgar, e aos poucos vai ficando mais e mais violento", comenta Grau. O clima de violência delirante tem a interferência da morta (Llum Barraldes), que sacia seu desejo de vingar-se daqueles homens. O cenário original da peça ficou retido num festival de teatro da Holanda e Grau elogiou a organização do festival que tirou o motor de um carro que foi carregado para o palco por 22 pessoas. "Só tirar o motor de um carro já considero uma loucura digna de nota." Já a atriz Sol Picó pediu à organização que providenciasse tomates, que seriam distribuídos ao público acompanhados da devida permissão para atirá-los, caso o espetáculo não agradasse. Vestida numa armadura, a atriz os distribuiu no início do espetáculo entre tímida e sedutora. Não eram para serem jogados de verdade. Ficou claro que ela não contava com isso. Com cabelos pintados de loiro, vestida numa roupinha negra de bailarina e sapatos de salto vermelho, Pina parecia ter saltado da tela de um filme do espanhol Almodóvar. Após a distribuição dos tomates, iniciou uma sucessão de números de dança, por vezes até engraçados, mas um tanto batidos, que não despertaram maior interesse. Com verbas reduzidas, o Filo 2001 teve altos e baixos em sua mostra internacional. Dois ótimos espetáculos tinham algo em comum - o autor. O dramaturgo argentino Aristides Vargas assina os textos de La Casa de Rigoberta Mira al Sur - numa belíssima encenação do Grupo de Teatro Justo Rufino Garay, da Nicarágua - e La Edad de la Ciruela com a Corporación Teatral Tragaluz. A 34.ª edição do Filo provou tratar-se de um dramaturgo que merece ser lembrado por atores e produtores brasileiros em busca de um bom texto.

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