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Grupo Cobra em exposição na Pinacoteca

Por Agencia Estado
Atualização:

Nos últimos anos, os brasileiros têm tido a oportunidade de conhecer melhor a obra contagiante do Grupo Cobra. Uma das últimas iniciativas bem-sucedidas de apresentação desse que foi um dos últimos esforços de produção artística engajada e coletiva foi na 23ª Bienal de São Paulo. Mas o conjunto de 18 obras apresentadas na ocasião não tem nem de perto o brilho e a importância da exposição que será inaugurada amanhã à noite na Pinacoteca do Estado, em São Paulo. Por trás do evento só poderia estar o publicitário e colecionador Jens Olensen, apaixonado há mais de 40 anos pelo trabalho do grupo fundado em 1948 por artistas dinamarqueses, belgas e holandeses. Após ter exibido por algumas vezes peças de sua coleção no País que adotou há mais de 20 anos, ele foi buscar as melhores dentre as mil peças que compõem o acervo do Museu Cobra de Arte Moderna de Amstelveen, próxima a Amsterdã. E organizou, com ajuda de Emanoel Araújo, uma mostra ao mesmo tempo didática e encantadora. A grande maioria de mais de cem pinturas, esculturas, desenhos e publicações cedidos pela instituição holandesa foram produzidas entre 1948 e 1951, período áureo do Cobra e emblemático da necessidade desses artistas de lançar mão da arte para contrapor-se aos horrores da guerra recém-encerrada. "Na minha opinião, essa é uma das melhores exposições do Cobra já realizadas no mundo", afirma Olensen. Segundo Emanoel Araújo, que além de acolher a mostra na instituição que dirige é um dos responsáveis pela curadoria, é sempre bom revisitar o Grupo Cobra. Além de encantar-se com "esse grito de liberdade contra a longa noite absurda da guerra exorcizar o fantasma do nazismo", o público poderá ver nesses trabalhos "uma certa vitalidade que a pintura perdeu, entrando num processo racionalista e frio, de exploração de conceitos." A cor, a liberdade de criação que deriva muito da pintura inconsciente do surrealismo, da fantasia dos loucos e da alegria das crianças é extremamente sedutora. Para exacerbar ainda mais a rebeldia contida nas telas de mestres como Appel, Jorn, Corneille e Alechinsky, entre outros, Araújo optou por utilizar cores fortes, algumas vezes gritantes, no espaço da mostra. Há também duas salas nas quais recriou um certo clima museológico, usando a penumbra e a iluminação quadro a quadro, valorizando o caráter onírico das obras. A primeira delas, que reúne obras de Carl-Henning Pedersen, é uma espécie de homenagem ao pintor, um dos últimos membros do Cobra que ainda estão vivos e que veio ao Brasil especialmente para a exposição. Assim como Pedersen, outros artistas do movimento têm salas especiais. Essa decisão de agrupar as obras por autor em vez de organizá-las numa linha do tempo permite compreender melhor as características e contribuições de cada um deles. É interessante notar a importância do grafismo e da abstração na obra do belga Pierre Alechinsky. E contrapô-la, por exemplo, à abordagem lírica e colorida do dinamarquês Ejler Bille (que, aliás, realizou recentemente uma exposição individual no Museu da Casa Brasileira). É evidente que cada visitante encontrará suas predileções entre as obras dos 22 autores representados na mostra, mas um passeio pelo espaço climatizado da Pinacoteca deixa evidente a imbricada relação desses artistas com seu tempo e a importância desses trabalhos para compreender o que ocorria no cenário artístico europeu em meados do século - como se fossem uma espécie de elo entre a modernidade e a contemporaneidade. Infelizmente a exposição, que custou cerca de US$ 500 mil e mereceu a edição de um belo catálogo, retorna à Holanda em breve sem passar por outras cidades. A única exceção é Curitiba, onde parte da exposição poderá ser vista em outubro.

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