Grifes travam guerra dos biquínis

No segmento que é a principal vitrine da moda brasileira no exterior, os ânimos andam exaltados desde que David Azulay, da carioca Blue Man, perdeu pela segunda vez consecutiva o prêmio Abit de Coleção de Moda Praia para a paulistana Rosa Chá, de Amir Slama

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Por Agencia Estado
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Como em dia de ressaca brava, daquelas que levam as ondas a bater no calçadão, o mar da moda praia brasileira anda revolto. O segmento, que é a principal vitrine da cara brasileira no planeta fashion, assiste atônito à troca de farpas entre dois líderes das areias: David Azulay, da carioca Blue Man, e Amir Slama, da paulistana Rosa Chá. Cada um na sua praia, eles podem até não brigar pela clientela do varejo - já que cada um tem um jeitinho diferente de cobrir os pedacinhos mais cobiçados do corpo das brasileiras. Mas têm disputado a atenção da mídia - e vêm conquistando espaço com suas picuinhas. Na noite do dia 13 de maio, David Azulay, dono da Blue Man, saiu do Rio, enfiou-se em um smoking, certo de que sairia da Sala São Paulo com o troféu da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) de Melhor Coleção Moda Praia 2001. Não levou. Perdeu, pela segunda vez, o título para a concorrente Rosa Chá. Como resultado, decidiu sair do São Paulo Fashion Week e soltou o verbo contra a grife paulistana. "Quem votou ali não vai à praia", "A Rosa Chá tem de virar Herchcovitch", " Não quero estar na mídia, quero estar na praia" e "Não vejo na praia os biquínis com perfuminho da Chanel pendurados" foram algumas das farpas que lançou em direção a Amir Slama - espinafrando a coleção e a postura da marca. De sua parte, Slama disse ter sido alvo de "um senhor que sempre foi um inovador", que "em vez de criticar méritos e exigir posturas, deveria mostrar trabalho" e "em vez de se preocupar com quantos perfumes vê na praia, deveria trabalhar melhor suas coleções". "O que eu faço é só trabalhar, sem me incomodar com os outros!", desabafou. Passada a tempestade, uma dúvida persiste. Em um país com milhares de quilômetros de costa não caberia todo mundo nas areias? Infelizmente, David Azulay, por problemas pessoais, não pôde responder ontem a essa pergunta. Amir Slama diz que o perfil dos clientes é diferente. "Apesar de estarmos no mesmo segmento, quem consome Rosa Chá não consome Salinas, nem Lenny, nem Blue Man. Cabe todo mundo e muito mais", pondera Slama - referindo-se às marcas que são consideradas de moda dentro do universo de 700 confecções formais que atuam no setor. Estima-se que o Brasil produza 50 milhões de biquínis, dos quais aproximadamente 10% são exportados. As grifes de moda não abocanham mais do que 6% desse universo. Isso significa que, o que enche a praia, na verdade são produtos populares - maiô de magazine. A trajetória de David Azulay foi determinante para a existência de um segmento de moda praia no País - e isso talvez justifique sua revolta em não ter seu esforço premiado. Ele foi pioneiro na criação do biquíni jeans no início dos anos 70, que virou febre no verão carioca. A imagem da modelo Rose di Primo com um biquininho jeans da grife virou pôster da Fiorucci - que era uma referência de modernidade no exterior. Blue Man virou ícone de sensualidade. Turistas estrangeiros abordavam as "cocotas" cariocas na praia para saber onde comprar "aqueles biquínis". E lá iam eles para o showroom, que funcionava em Copacabana, na Santa Clara 33, endereço que reunia as melhores etiquetas cariocas. Blue Man foi a primeira marca de moda praia dentro do conceito que se conhece hoje e foi a primeira a exportar biquínis. Em 85, abriu até loja em Miami. E sempre esteve envolvida com a iconografia brasileira, estampando tucanos e palmeiras em seus milimétricos modelitos. Biquíni Blue Man é essencialmente pequeno, executado para as cariocas. Biquíni Rosa Chá é mais larguinho e tem, sim, um quê mais urbano, mais Oscar Freire. "É uma moda praia que vai além da praia, é um retrato de moda brasileira", justifica Slama. E retruca a alegação de que faz modelagem pensando na consumidora estrangeira. "Não estou voltado para o mercado externo, o meu consumidor está aqui. O que ocorre é que esse tipo de trabalho sempre chamou atenção de estrangeiros e de seis anos para cá começamos a vender em espaços e lojas importantes lá fora", explica. De 97 até hoje, as exportações da Rosa Chá passaram de 0,35% da produção para 9%. O Prêmio Abit, estopim de todo o bafafá, é para ele um reconhecimento do trabalho. Não alavanca nem resulta em mais negócios. "A gente acaba estando na mídia, mas na verdade, lá no fundão, quem te julga é o varejo. A coleção só funciona na loja se vender", constata o empresário. "Moda praia é uma coisa do Brasil, não é do Rio, não é de SP."

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