Graves turbinados

À frente do fenômeno da popularização do dubstep, o DJ Skrillex

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Por Roberto Nascimento
Atualização:

Graves digitais monstruosos impulsionam a ascensão da música eletrônica ao centro da cultura jovem americana, atraindo públicos de até 230 mil em festivais de dance music como o Electric Daisy Carnival e o Ultra Music Festival de Miami (em comparação, Coachella e Lollapalooza não chegam à marca de 100 mil). Na linha de frente deste fenômeno, que pode representar a primeira hora e vez de um gênero que nunca proliferou entre a cultura de massa dos Estados Unidos, está o cabeludo Skrillex, que em 2010 virou ídolo da garotada com o EP My Name Is Skrillex. Foi uma questão de timing e sagacidade pop. Ao mesmo tempo em que Skrillex aperfeiçoava sua coleção de graves perfurantes, esta cria menos refinada do gênero conhecido como dubstep começava a pipocar no universo pop (o primeiro registro é Hold It Against Me, de Britney Spears, no mesmo ano).Uma alternativa atraente para a eletricidade de guitarras, empacotadas em um balanço não muito distante do hip hop, o dubstep simplificado começou a permear a música de Snoop Dogg, Lil Wayne, Rihanna e Jay-Z (em parceria com Kanye West). Logo Skrillex tornou-se o representante do gênero, encabeçando festivais de música eletrônica e lotando, junto ao dono de sua gravadora, o também popular Deadmau5, casas importantes como o Roseland Ballroom, em Nova York. A ascensão de Skrillex, nome artístico de Sonny Moore, é emblemática para a ressonância que sua música tem com o público jovem. Antes de manusear pick-ups, o jovem californiano cantava e tocava guitarra na banda de screamo (pensem em emo com "screams", ou berros) From First to Last. A banda fez sucesso no circuito jovem que reverencia grupos como My Chemical Romance e All Time Low. No entanto, a berraria custou a Moore um nódulo na garganta e, sem ter seguro médico, mais US$ 60 mil para a operação. Endividado, o garoto deixou a banda e foi morar com um amigo, em Los Angeles, onde começou a produzir suas primeiras faixas. Poderia parecer uma guinada radical, mas quando Moore se transformou em Skrillex, sua música reteve a intenção bombástica do screamo, substituindo a guitarra pelos graves que surgem no ápice de suas faixas. O dubstep em sua forma mais pura, praticada por incensados produtores como Burial, Kode9 e Zombie, pode ser definido como música eletrônica atmosférica, com manipulações criativas de graves e texturas. É um gênero autoral, responsável por renovações estéticas que definiram a música eletrônica da última década. No entanto, para Skrillex e seus cúmplices, como Rusko, Datsik e Downlink, o dubstep é apenas a categorização de uma receita de heavy-metal digitalizado. Tanto que o Korn, banda que teve seu auge no movimento de nu metal dos anos 90, mas continua na ativa, contratou Skrillex para produzir quatro faixas de seu próximo disco. Ao ouvir a sujeira das guitarras, adicionadas aos dramalhões das letras de Jonathan Davis e os graves de Skrillex, a mistura faz sentido: seu appeal entre a moçada se deve à energia de guitarras distorcidas que se traduzem em graves digitais. A batida seduz todas as tribos: a molecada do hip hop, a do rock e a do dance. O single do novo disco do Korn já está disponível. Mas um rápido giro pela popularidade de Skrillex nos leva ao seu remix de Cinema, canção de Benny Benassi, que lhe rendeu um Grammy. Trata-se de eletro pop genérico com um interlúdio pesado, com levada de rock and roll acompanhando a arma secreta de Skrillex. É difícil pensar em algo mais óbvio, em termos de produção, que esta receita de Skrillex. Mas assim caminham os hypes da juventude: em universos que muitas vezes estão além da compreensão adulta.

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