Governo Obama pode deixar humoristas sem assunto

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Por MICHELLE NICHOLS
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A histórica eleição de Barack Obama para a Casa Branca é um mau presságio para os comediantes que tanta matéria-prima tiveram durante os oitos anos de governo de George W. Bush, segundo especialistas. Obama, que teve muito apoio na classe artística, se tornará em 20 de janeiro o primeiro negro a governar o país, num momento de crise econômica e com duas guerras em andamento. Seja por causa da simpatia que desperta entre comediantes com tendência mais à esquerda, pelo caráter histórico da sua eleição ou porque até agora tenha cometido poucas gafes, o fato é que os humoristas estão sofrendo para inventar piadas com Obama. "A eleição de Obama é ótima para o país, mas ruim para a comédia", disse Michael Musto, colunista do Village Voice, de Nova York. "Ele é uma pessoa inteligente, prudente, tentando resgatar um país em crise, e isso não tem graça nenhuma." "Barack Obama tem sido o pesadelo dos humoristas", disse Robert Thompson, professor de Televisão e Cultura Popular da Universidade Syracuse. Até Obama fez piada num jantar beneficente em Nova York, no fim da campanha, onde ele e seu rival John McCain tiraram sarro de si próprios. O democrata disse na ocasião que seu maior defeito é ser "um pouco incrível demais". BUFÕES "A comédia prospera onde há alvos bufonescos", disse Musto. "Tradicionalmente, programas como o 'Saturday Night Live' se saíram melhor lidando com pessoas como o presidente (Gerald) Ford, que não conseguia ficar em pé o tempo todo, ou do que (Bush), que não consegue dizer 'nuclear', ou Sarah Palin, que não sabia que a África é um continente." A audiência do tradicional humorístico "Saturday Night Live", da NBC, disparou durante a campanha eleitoral, especialmente depois que a atriz Tina Fey passou a imitar a governadora do Alasca, Sarah Palin, candidata republicana a vice-presidente. Outros programas que misturam humor e jornalismo, como o "Daily Show" de Jon Stewart e o "Colbert Report", ou então programas de entrevistas como os de David Letterman e Jay Leno, se locupletaram durante os oito anos de Bush. Letterman, por exemplo, tem um quadro chamado "Grandes Momentos dos Discursos Presidenciais". "Como comediante, devo admitir que vou sentir saudades do presidente Bush, porque não é fácil fazer piada sobre Barack Obama. Ele não lhe dá muito para explorar", disse Leno a sua platéia depois da eleição. "Vai ver que é por isso que Deus nos deu Joe Biden (vice de Obama)." O próprio Bush, bem antes de Obama ser candidato, já se queixava da dificuldade em fazer piadas com ele. "Senador Obama, eu queria fazer uma piada com o sr., mas é como fazer piada com o papa", disse o presidente num jantar em 2006. "Me dê algum material para trabalhar aqui. Sabe, um erro de pronúncia, alguma coisa." MANJEDOURA Mas Liam O'Brien, professor de Produção de Mídia da Universidade Quinnipiac, disse que nem tudo está perdido, porque "os comediantes progressistas vão continuar a se distrair com o que restou do Partido Republicano". Quando a Obama, o tempo vai se encarregar de dar a matéria-prima. "Como disse Obama, 'não nasci numa manjedoura'. Ele está bem ciente, especialmente em questões complicadas e na forma como for assessorado, de que haverá erros", disse O'Brien. O que já está bem claro é que provavelmente os humoristas evitarão piadas sobre a raça de Obama -- ao menos os brancos. "O presidente é negro, então obviamente vamos brincar com toda situação que você puder imaginar a respeito de um presidente negro", disse o comediante negro Tracy Morgan, da série "30 Rock", ao New York Times. "Já os comediantes brancos têm de lançar seus dados. Se você entrar por esse caminho (da piada racial), é bom que seja bem engraçado."

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