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Gotye no limite

Por Roberto Nascimento
Atualização:

Gotye, cantor e produtor belga, dono do eminente hit Somebody That I Used to Know, pinga entre referências como se estivesse jogando amarelinha. É uma distração proposital, que se alterna, no seu terceiro disco, Making Mirrors, entre kitsch dos anos 80, soul e world music, refletindo a sensação aleatória de vagar pelo YouTube atrás de recomendações; a rapidez com que nossas mentes são levadas por um novo estímulo ou por um post no Facebook. Isto sustenta curiosidade estética por boa parte do disco. Há épicas melodias, como Eyes Wide Open, que lembram a cafonice gloriosa e desinibida de Alphaville (em Forever Young, por exemplo) seguidas por flertes com blues e reggae. Muito já foi dito sobre suas semelhanças com Sting e Peter Gabriel (sonoridade vocal de um, globalidade de outro). O hit do disco lembra Manu Chao. Mas o interesse de Gotye por brincadeiras estéticas vai até o ponto em que se percebe que a verdadeira intenção de Making Mirrors é emplacar um hit. A partir daí alguns falsetes à la James Blunt (You're Beautiful) e algumas melodias ensolaradas demais nos fazem desconfiar: estragam o devaneio nostálgico como o alarme interrompe um sonho (tocando a própria música de Blunt, provavelmente). Não que Gotye venda a alma para o Diabo. Longe disso. Mas a linha entre brincar com referências e fazer música para as massas fica clara numa situação destas, e o cantor parece não saber em que lado ficar. É certo que se daria melhor em qualquer um deles.GOTYEMAKING MIRRORSUniversal Preço: R$ 34,90 BOM

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