Gonçalves lança "Palavra Náufraga"

Antônio Gonçalves Filho (Toninho) percorreu um longo caminho e dispendeu muito esforço pessoal para se transformar num dos maiores repórteres culturais do País. Ele lança amanhã seu livro de ensaios sobre cinema

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Por Agencia Estado
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Ele não nasceu em berço esplêndido, como um de seus ídolos assumidos, o conde italiano Luchino Visconti, que virou um dos maiores diretores de cinema, teatro e ópera do mundo. Antônio Gonçalves Filho nasceu numa família iletrada em Santos. Percorreu um longo caminho e dispendeu muito esforço pessoal para se transformar num dos maiores repórteres culturais do País. Para os amigos, nas redações dos jornais em que trabalhou, ele é Toninho. Um homem renascentista em pleno século 21, capaz de escrever com erudição sobre artes plásticas, cinema, literatura, música, teatro. No seu processo de crescimento humano e artístico, o cinema foi fundamental. "O cinema me abriu as portas do mundo" diz Gonçalves. Livros, músicas, peças, tudo ele devorava a partir (ou por causa) dos filmes que via desde pequeno. Na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo, Gonçalves lança amanhã seu livro de ensaios sobre cinema, A Palavra Náufraga. A edição é da Cosac & Naify, o volume tem 376 páginas e possui um caderno só de fotos. Logo na abertura, o autor explica o título, aparentemente enigmático para um livro sobre cinema. Quando menino, Gonçalves tinha dificuldades para ler. Ia muito ao cinema e a impressão que tinha é que as palavras, contidas nas legendas, boiavam na tela. Há 15 anos, quase morreu afogado. Foi salvo por surfistas, mas antes que as mãos amigas o retirassem da água, nos estertores da morte, ele viu sua vida passar como um filme. Não admira que tenha dado esse título ao livro. A palavra, no cinema, está sempre procurando autonomia. Procurando um receptor, como o próprio filme, ele diz. Até pela mutiplicidade do seu conhecimento artístico, Gonçalves tem um pudor exagerado em se definir como crítico. Diz que o crítico tem de ser especializado, ele é repórter. Quem dera que 99% dos críticos tivessem o conhecimento e a sensibilidade que ele revela nesses ensaios sobre cinema. Em mais de 20 anos de carreira, 7 em O Estado de S. Paulo, Gonçalves colecionou cerca de 5 mil artigos em 50 pastas. Quando Charles Cosac lhe propôs editar o livro, Gonçalves fez a pré-seleção. Escolheu cerca de 400 textos, que entregou ao editor. Ele fez a seleção final dos 115 textos que integram A Palavra Náufraga. Quem conhece Toninho, sabe que ele ama Visconti, Pasolini, Tarkovski. Mas seus dois cineastas preferidos, aos quais ele dedica análises brilhantes no livro, são Bresson e Fellini. Ele explica. O pai era dono de cabaré na zona portuária de Santos. Toninho o ajudava a abrir o estabelecimento, todas as manhãs, mas antes a mãe religiosa o obrigava a ir à missa. O filho do cabareteiro foi coroinha na Igreja. Admira que seja tocado pela festa com que Fellini tenta compensar a culpa ou pela graça que irrompe das imagens ascéticas de Bresson? É um belíssimo livro de ensaios. A Palavra Náufraga. De Antonio Gonçalves Filho. Editora Cosac & Naify. 376 págs., R$ 38. Lançamento nesta terça-feira, às 18h30. Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Avenida Paulista, 2.073, em São Paulo, tel. (11) 3285-4033.

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