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Globo prepara nova investida no mercado editorial

Por Agencia Estado
Atualização:

As organizações Globo preparam uma nova investida, desta vez nas livrarias. A editora Globo planeja fazer crescer sua participação no mercado, ampliando o número de lançamentos e apostando em novas formas de distribuição. "Nossa presença no mercado editorial está subdimensionada", afirma o jornalista Wagner Carelli, que há 15 dias assumiu o posto de diretor-editorial da divisão de livros da Globo e que deve também colaborar com a de revistas. Novato no mercado de livros, Carelli deixou a editora D´Ávila, que publica as revistas Bravo!, República e Sabor. Numa primeira avaliação, ele diz que a empresa atua com menos de 10% da sua capacidade. Para efeito de comparação, usa a Companhia das Letras. "Eles lançam 350 livros por ano, nós lançamos 35; nossas obras são bem aceitas, estão bem colocadas, mas a dimensão ainda é muito pequena." Segundo Carelli, até o Natal deste ano já será possível sentir uma maior presença da editora no mercado. Até o fim de 2001, ele espera estar atingindo números semelhantes aos das grandes editoras do mercado: Objetiva, Companhia das Letras ou Record. Tradição - A editora Globo é uma das mais tradicionais do País. Foi fundada em 1883, na Rua da Praia, em Porto Alegre, com o nome de Livraria do Globo. Nos anos 30, dirigida por Henrique Bertaso, que começara na empresa como varredor, aos 12 anos, a editora tornou-se referência no setor. Em 1931, Érico Veríssimo, que se autodefinia como um boticário fracassado, passa a trabalhar nela, cuidando da Revista do Globo. Érico Veríssimo, além de publicar todas os seus livros pela editora, selecionou, traduziu e/ou editou obras de Thomas Mann, Graham Greene, James Joyce e Aldous Huxley. A lista até tem fim, mas não é possível completá-la num tão breve espaço. É da editora a tradução de Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, feita por Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Mário Quintana. Também foi a editora quem trouxe ao Brasil toda a Comédia Humana de Balzac. Só em 1986 é que a Rio Gráfica, braço editorial das Organizações Globo, adquiriu o controle acionário da editora Globo - que, havia seis anos, estava com sua sede no Rio. A empresa fica, agora, em São Paulo. Compartilha o prédio com a divisão de revistas. "A Globo em Porto Alegre e a José Olympio no Rio de Janeiro foram as responsáveis por uma nova visão editorial no País", diz Carelli. "Esse acervo precisa ser arejado por uma nova abordagem editorial, que o torne acessível ao grande público." O editor busca agora garimpar nomes nesse catálogo que possam ser retrabalhados. Cita Simões Lopes Neto, jornalista e escritor gaúcho, autor de Contos Gauchescos e Lendas do Sul. Outro projeto de Carelli é criar seções dentro da editora de livros, para ampliar a atuação em nichos hoje não explorados pela Globo, como religião, esoterismo e auto-ajuda. Bancas e web - Uma das vantagens da Globo é o esquema de distribuição de revistas da empresa. A venda em banca, já utilizada pela editora - que distribuiu dessa forma, nos últimos anos, as obras completas de Érico Veríssimo e de Machado de Assis - pode ser reforçada. Carelli utiliza como parâmetro a britânica Penguim, que se notabilizou por editar clássicos em formatos práticos e baratos, a partir dos anos 30. A investida da Globo deve incluir também o lançamento de livros eletrônicos. "O e-book nos interessa muito", afirma Carelli. Na sua avaliação, a pequena presença nas livrarias tradicionais abre possibilidades para a empresa. Na opinião de Carelli, o valor do público leitor brasileiro é subdimensionado. Hoje, crê, ele se tornou cosmopolita, exigente e capaz de reconhecer produtos de qualidade editorial. Esse consumidor, avalia ele, considera o livro um objeto de consumo - que, entre outras coisas, tem de ser bem embalado. "Não basta um bom conteúdo, é preciso cuidar também da forma - a leitura precisa ser prática, agradável e selecionada por pessoas que entendam do assunto, interlocutores com o mesmo grau de exigência que tem o leitor e que ajudem a orientar a seleção." Lembrando Oswald de Andrade - também um autor da Globo, que deve ter sua obra relançada em breve -, ele acredita que hoje é preciso servir o biscoito fino para as massas. "Temos de buscar não só o bom texto reconhecido, mas o bom texto novo, encontrar pessoas que escrevem bem, mas que não estão escrevendo para o livro." Carelli não diz em quanto o orçamento da editora deve ser ampliado para dar conta desses novos investimentos. A princípio, diz, pretende trabalhar com os recursos já previstos. "Usando uma palavra que detesto, mas que neste caso funciona, pretendo ´otimizar´ os recursos disponíveis. Ainda estamos estudando qual é o potencial desses recursos já disponíveis. Como Hitchcock, gosto de trabalhar com orçamentos apertados".

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