23 de outubro de 2010 | 00h00
Na história, Daniel (Grégoire Leprince-Ringuet) e Marjoline (Léa Seydoux) se casam na França após o término da 2.ª Guerra. Aliás, o filme começa com material de arquivo, mensagens patrióticas de reconstrução da França após o longo, sangrento e desastroso conflito mundial de 1939 a 1945. A duração desse prólogo se justifica para nos colocar o sabor do tempo em que a história vai se passar. E a mentalidade vigente na Europa da reconstrução, na Europa do Plano Marshall, terá tudo a ver com o destino dos personagens. Entender esse destino também será compreender o caminho tomado pelo continente europeu com o término do conflito.
Daniel, junto com o pai, cria rosas (daí o título) numa fazenda. Mas a mulher deseja morar na cidade. Não gosta de velharias (a frase que dirige ao marido é ótima: "Il me faut du nouveau". Preciso do novo). E, assim, o convence a morar num apartamento que justifica aquele famoso trocadilho brasileiro: "apertamento", com a visão coberta pelo edifício de frente. Aliás, a cena em que o corretor de imóveis lista as vantagens do apartamento é antológica. Ter a intimidade devassada pelos vizinhos será "contemplar um espelho da sua própria felicidade".
Enfim, essa França do pós-guerra nada terá mais a ver com o país de outros tempos. Entra no clima consumista e alienado que outra fase da civilização propõe. Os valores e produtos norte-americanos se impõem e tudo muda. Ao se perder, a Europa começa de fato seu ciclo de decadência. Essa decadência com ares de modernidade é simbolizada pelo casal Daniel e Marjoline. Sobretudo por ela, linda, vazia. E perdida. Um caso de amor, pela lente de Amos Gitai, nunca deixa de ser também um comentário político e histórico.
ROSAS A CRÉDITO
Cine Livraria Cul-tura 1 - Hoje, 20h40
Cinesesc - Amanhã, 17h20
Cinema Sabesp - Segunda, 19h30
Espaço Unibanco Pompeia 1 - Terça, 16h10
Cinemateca - Sala BNDES - Sexta, 19h30
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