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"Giselle" dá novo fôlego ao Municipal do Rio

O novo diretor do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio optou por um clássico do romantismo francês, Giselle, para iniciar uma nova fase na companhia

Por Agencia Estado
Atualização:

O bailarino Richard Cragun quer trazer o entusiasmo de volta ao Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, grupo que considera de grande qualidade técnica e muita personalidade. Para isso, sua primeira montagem como diretor da companhia é o balé Giselle, com a coreografia de Peter Wright, que estréia nesta sexta-feira, com previsão de 12 récitas, até o dia 24. Cragun assumiu o cargo no início deste ano e se sente voltando às origens, depois de uma carreira que lhe deu fama por obras modernas, algumas criadas especialmente para ele e sua ex-partner, a bailarina brasileira Márcia Haydée. "Essa Giselle é um desafio para mim, pois balé clássico é o gênero mais difícil de todos. Exige muita técnica e talento para não ficar chato e antigo", comenta ele. "Também é uma oportunidade de valorizar esse elenco que sofreu tanto no ano passado, com problemas políticos, de dinheiro e que quase não fez espetáculos. Por isso só usei a prata da casa e pelo menos 15 protagonistas estão dançando seus papéis pela primeira vez. A estréia será com Ana Botafogo e Marcelo Misailidis, mas outros bailarinos vão se revezar nos principais personagens." Um desses bailarinos é o novato Bruno Rocha, que certamente surpreenderá como príncipe Albretch, não só pela beleza e técnica apresentadas, mas por ser negro, quando esse papel é geralmente reservado para homens claros, arianos. Ele dançará com Ana Botafogo, mas Cragun reduz o impacto de sua opção. "Não olhei para sua cor e sim para o físico nobre e elegante. Pensar diferente é preconceito", avisa. "Ninguém mais estranha ouvir Jessie Norman cantando Mozart. Se é comum na ópera, deve vir a ser também no balé clássico." A versão de Wright para Giselle faz parte do repertório do Municipal desde 1982, mas não era remontada há pelo menos três anos. "Muitos bailarinos não haviam dançado e é uma ótima oportunidade para que eles cresçam diante dos olhos do público", diz o diretor da companhia, que não pretende trazer estrelas para dançar aqui, como é praxe em grandes montagens. "Minha intenção é que o público acompanhe a carreira do bailarino, veja sua evolução técnica e artística. Uma profissional como a Roberta Marques, por exemplo, jamais dançou Giselle. Está muito bem, mas daqui a três anos, dançando muitas vezes, estará muito melhor." Giselle é um dos clássicos mais populares desde sua estréia mundial, em 1841, na Ópera de Paris. É uma pérola do romantismo, em que a personagem-título, uma camponesa, é seduzida pelo príncipe Albretch, morre ao saber ser impossível o seu amor, mas tenta salvá-lo da vingança de outras donzelas abandonadas. Tudo transcorre em dois atos, sendo o segundo considerado difícil pela mistura de dramaticidade e técnica tanto para os solistas quanto para o grupo. Para Cragun, é também uma oportunidade de a companhia mostrar suas qualidades e por isso, deixou para julho a montagem de Eugene Onegin, de John Cankro, que o Municipal nunca dançou. Paralelamente ao Balé do Municipal, Cragun continua à frente do grupo DeAnima, que perdeu o patrocínio da prefeitura do Rio, mas não desistiu de levar adiante seu projeto social que, além da companhia de dança contemporânea, prevê a formação de cem bailarinos profissionais egressos dos muitos movimentos que usam a dança como resgate da cidadania. "Estamos só com um tostão, mas muito coração e não vamos desistir", garante ele. "Estamos fechando outras parcerias e já temos espetáculos marcados no Rio, no Municipal de Niterói e em São Paulo, ainda neste semestre."

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