Gilda Vogt expõe pinturas no CCSP

Convidada da 3.ª Mostra do Programa Anual de Exposição, a artista expõe a partir de amanhã telas em que expressa sua busca pela essência do brasileiro

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Por Agencia Estado
Atualização:

Para Gilda Vogt Maia Rosa, as telas que mostra a partir de amanhã no Centro Cultural São Paulo, como única convidada da 3.ª Mostra do Programa Anual de Exposição, são como registros de emoções visuais, memórias apagadas que tenta reter antes que desapareçam por completo. O olhar de pintora, exercido de forma discreta ao longo de tantos anos - Gilda trabalhou por décadas sem mostrar seu trabalho e só realizou sua primeira mostra individual há dois anos -, se associa a uma profunda e emotiva relação com seu País e as pessoas que aqui vivem. "Às vezes tenho a impressão de que isso aqui foi colonizado errado, que é necessário entender de novo; mas pelo lado emocional, pelo meu lado", afirma ela, traduzindo em palavras o que vemos nas telas. As narrativas, que reconstitui como um drama clássico, foram captadas em vários momentos e lugares e normalmente retratam o dia-a-dia de figuras anônimas e sofridas que, no entanto, sobrevivem, como o homem que tenta tarrafear alguma coisa no fétido e poluído canal do Jardim de Alah. Crianças nadando no Rio (sua cidade natal) na hora do lusco-fusco, tendo a favela do Vidigal ao fundo; pescadores se preparando para a pesca da tainha numa praia do sul; um homem limpando uma vidraça... Ao falar dessa sua busca pela essência do brasileiro - "poderia ter sido antropóloga" -, lembra-se de uma música de Villa-Lobos, Quadrilha de Estrelas, que costuma cantar no coral. "O assunto é brasileiro, tem alma brasileira e é tradicional e clássico." Todas essas imagens são retratadas com um realismo sentimental. O gesto rápido e a técnica de pintar sobre tela, obtendo um resultado que se assemelha muito à aquarela (tanto no que se refere à transparência e à luminosidade dos tons, quanto pelos registros da execução, do escorrer da tinta aguada), escondem num primeiro momento o cuidado com que Gilda compõe cada uma suas telas. Como define Sergio Romagnolo no texto que escreveu para a exposição de Gilda no CCSP - e que deverá também participar de uma mesa-redonda para discutir seu trabalho - seu "gestualismo é calibrado e equacionado". Ele também chama atenção para outro fator essencial na sua obra: a cor. Predominam o verde e o azul, que transitam tranqüilamente do opaco para o transparente, gerando como que uma espécie de luz própria, interna. As sombras, o tradicional contraste entre o claro e o escuro não têm vez. "A luz não reflete em nada, tudo é fosco e as transparências agüentam só duas ou três camadas. Mas as formas opacas não são sólidas, são leitosas. Este é um mundo de imagens ao sabor do vento, a pintura existe apenas na calmaria do olhar da pintora que paralisa a cena", diz. É curioso notar que a figura humana e esse desejo de retratar os excluídos sempre estiveram presentes em Gilda. Ela mostra o retrato de uma velha, que fez em sua época de estudante na Escola Brasil (onde conheceu o marido Dudi Maia Rosa, um dos fundadores desse espaço) e se espanta com a semelhança existente entre essa obra de juventude e as pinturas mais maduras, que só agora tira do ateliê por acreditar que o trabalho só passa a existir realmente quando se encontra com o público. E no caso do público do CCSP esse encontro ainda reserva um charme especial, pois Gilda confessa que há tempos está de olho nesse espaço generoso. Tanto que chegou a mandar seu trabalho para lá com o objetivo de tornar-se uma das selecionadas, confirmando a confusão que a busca pelo ineditismo acabou criando. Felizmente, ela acabou sendo um dos artistas convidados do ano, mostrando que é possível desenvolver uma trajetória sólida sem estar, necessariamente, sob os holofotes da mídia e do mercado. Gilda Vogt Maia Rosa e 3.ª Mostra do Programa de Exposições. De 3.ª a 6.ª, das 10 às 20 h; sáb. e dom., das 10 às 18 h. Até 8/12. Centro Cultural São Paulo. R. Vergueiro, 1.000, em São Paulo, tel. 3277-3611. Abertura às 19 h.

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