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Gianni Ratto se lança à literatura

Depois da autobiografia A Mochila do Mascate e do Antitratado de Cenografia, o consagrado cenógrafo e diretor estréia na ficção literária com Crônicas Improváveis. E, para outubro, já tem pronto seu quarto livro, Hipocritando

Por Agencia Estado
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Aos 86 anos, o cenógrafo e diretor Gianni Ratto acaba de lançar seu primeiro livro de contos, Crônicas Improváveis, publicado pela editora Códex. A incursão tardia pela literatura está longe de representar passatempo de um grande criador na área teatral. Com esse livro, Ratto mostra que a escritura cênica não é seu único talento. Fez boa literatura. Talento para lidar com idéias e palavras Ratto já demonstrara em A Mochila do Mascate (Editora Hucitec, 1996), uma autobiografia que na verdade é um misto de crônicas, ensaios e memórias. Publicou ainda, pelo editora Senac, Antitratado de Cenografia. E já tem pronto um quarto livro, Hipocritando, escrito com o apoio da Bolsa Vitae, com lançamento previsto para outubro. Um livro sobre ser ator. "Hipocritando será um livro sobre a sensibilidade interpretativa. É dirigido aos menos experientes. Não quero fazer história sobre a arte do ator, mas tentar descobrir de que forma o mundo sensível pode despertar a sensibilidade teatral. O teatro é a arte de descobrir verdades escondidas no mundo real. Assim como a acupuntura toca um ponto nevrálgico para curar uma doença, eu gostaria de atingir pontos que despertassem a sensibilidade teatral no leitor. Se conseguir isso, estarei satisfeito. Quem leu as provas achou interessante", diz Ratto, que recebe a reportagem pela manhã em sua casa no Pacaembu num dia em que acordara de madrugada para assistir ao jogo do Brasil contra a Inglaterra. As horas de sono roubadas pelo jogo parecem não fazer falta. Numa longa conversa, fala sobre teatro brasileiro, sobre seus projetos e até mesmo sobre as recentes apresentações no Brasil das montagens de Hamlet, de Peter Brook, e do Arlecchino, do Piccolo Teatro de Milão, companhia na qual Ratto trabalhou sete anos. E, claro, sobre seu livro Crônicas Improváveis. "São contos, concordo", diz sobre o título que engana. "Imaginei esses contos como se fossem espetáculos com personagens, idéias, ambientação, pequenas surpresas. Por isso os vejo como continuação de meu trabalho de diretor." Ratto achou menos pretensioso chamar de crônicas, um comportamento bem ao estilo do artista, cujo foco sempre esteve na criação, jamais investindo na construção de uma imagem pública, por sinal muito aquém de sua imensa contribuição ao teatro. "A gente deve conhecer os próprios limites, o que não significa não querer ultrapassá-los. Nessa escritura estão minhas leituras - todas sedimentadas, claro -, a guerra, o colégio de padres, minhas experiências. Mas não me considero um escritor com E maiúsculo. Mas é claro que, se alguém diz isso, fico feliz", brinca.

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