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Gerald Thomas se despede da mãe com a peça <i>Rainha Liar</i>

Em cartaz no Rio, espetáculo foi concebido pelo dramaturgo em parábolas

Por Agencia Estado
Atualização:

O dramaturgo e diretor Gerald Thomas considera pessoais todos os textos que encenou, mas Rainha Liar, que estreou na semana passada no centro cultural da Telemar, no Rio, é declaradamente autobiográfica, pois fala de tragédias coletivas e de seus dramas familiares. "Perdi minha mãe em agosto e o espetáculo é uma forma de contar sua história, despedir-me dela. Mas não é uma cerimônia pública, nem conto uma história linear. A ação se desenvolve como pequenas parábolas." A peça faz dobradinha com outro espetáculo de Thomas, Terra em Trânsito, já levado a São Paulo. "Mas chega aqui diferente porque foi depurada em NY." Para ele, as peças são uma volta a seu método, que consiste em reunir seu elenco dias seguidos para criar o texto em ensaios. "O último foi Ventriloquist, de 1999. Desde então, tenho tido propostas comerciais, trabalhado com estrelas e pouco tempo para criar. Também foi ótimo fazer Um Circo de Rins e Fígado, com Marco Nanini. Achava que seria complicado lidar com um ator tão experiente, mas nosso entrosamento foi perfeito", conta o diretor. "Mas estava sentindo falta de voltar ao velho sistema de trabalho. Ter tempo para ensaiar, propor uma experiência aos atores e sair no fim do dia com uma cena." Em Terra em Trânsito, a atriz Fabiana Guigli está praticamente sozinha no palco, empanturrando-se de foie gras e contracenando com o bicho, na verdade um boneco vestido pelo ator Pancho Cappeletti. O texto jorra como se fosse inventado na hora e Gerald disse que as mudanças do espetáculo ocorreram quando ele reverteu tudo para o inglês. "Sempre escrevo minhas peças em inglês e depois traduzo para o português. Quando encenei em Nova York, vi que havia muito a modificar", disse. Já em Rainha Liar, além de Fabiana e Pancho, estão Fábio Pinheiro e Anna Américo. "Resgato a triste história de minha mãe, mas desconstruo para dar-lhe um cunho teatral." Na verdade, Thomas completa um círculo (ou seria espiral?) com este espetáculo porque ele, que foi um dos primeiros diretores a quebrar tabus e desconstruir textos consagrados, acha que está na hora de começar a "juntar as pastilhas que os iconoclastas espalharam por aí". Embora ele não faça concessões, o público lota seus espetáculos, geralmente jovens ávidos por conhecer as histórias que ele conta. No caso de Rainha Liar, Gerald Thomas tem certeza de que vai interessar. "Tudo que reconstrói a história, que faz o jovem aprender tem atualidade. Esse público gosta de ser provocado. Ou então não viria ver minhas peças." O texto fica em cartaz até o fim de maio, mas em abril o diretor já estará longe do Rio. Vai para a Alemanha preparar a montagem da ópera Babylon 2, que deve estrear em novembro, e a Londres, onde fará a pré-produção de Ghost Writer, seu primeiro filme que fala de terrorismo e do embate muçulmanos e cristãos, com cenas na Inglaterra, na Turquia e na Tríplice Fronteira Brasil, Paraguai, Argentina.

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