Gelman, poeta da liberdade e obsessão

PUBLICIDADE

Foto do author Ubiratan Brasil
Por Ubiratan Brasil
Atualização:

Uma voz grave, lapidada por anos de consumo de cigarros fortes, marcou a recente Feira de Livros de Frankfurt. Aos 80 anos, o escritor argentino Juan Gelman arrastou pequenas multidões de admiradores pelos largos corredores do evento que queriam ouvi-lo. Considerado um dos melhores poetas de língua espanhola, ele, no entanto, era econômico com as palavras. Há décadas vivendo no México, exílio forçado pela ditadura argentina dos anos 1970, Gelman celebrou a palavra como caminho para a libertação.Autor de poemas depurados, que buscam novos ritmos, Gelman foi o representante dos escritores de seu país no pavilhão em homenagem à Argentina, organizado em Frankfurt. Uma escolha natural, por conta de sua importância. Alçado à condição de clássico por autores como Julio Cortázar e o uruguaio Eduardo Galeano, ele participou de debates nos quais relembrou tempos tortuosos.O golpe militar de 1976 o tornou maldito e proibido, obrigando-o a buscar refúgio primeiro na Itália. Foi distante que acompanhou a prisão do filho e da nora, que estava grávida. Não conseguiu mais notícias do casal e somente anos depois descobriu a neta, que vivia no Uruguai. "Foi uma ditadura sanguinária, que comprovou que, sem justiça e sem verdade, não é possível construir uma sociedade", disse ele a uma plateia atenta.Gelman lembrou ainda como enveredou pela poesia, opção tomada ainda jovem e inspirada em Pushkin. "Eu não entendia que demônios ele estava me dizendo, mas a música de suas palavras repercutia dentro de mim." Assim, tornou-se obcecado pela poesia, devoção que sempre marcou sua obra. "Seus versos são como relógios que nunca dão a hora certa, mas outra, fora de qualquer tempo", observa Eric Nepomuceno, que traduziu, em 2001, Amor Que Serena, Termina? (Record), primeiro livro de poemas de Gelman a chegar ao Brasil, ainda disponível em algumas livrarias.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.