O jornalista americano Gay Talese desenvolveu múltiplas formas para fazer uma reportagem. Em Frank Sinatra Está Resfriado, por exemplo, para traçar o perfil do famoso cantor e ator, ele descobriu que a falta de cooperação da pessoa a ser retratada não importa muito - e o texto, publicado na edição de abril de 1966 da revista Esquire, tornou-se clássico por desvendar o personagem sob diversos ângulos, pois, na impossibilidade de entrevistar Sinatra, Talese ouviu dezenas de pessoas de alguma forma ligadas a ele que forneceram informações para um retrato sólido. Esse é um dos textos de Fama e Anonimato (536 páginas, R$ 52), obra que a Companhia das Letras promete enviar hoje para as livrarias, aumentando sua coleção Jornalismo Literário. Sobre essas reportagens, que se tornaram referência de texto elegante e plenamente informativo, Talese respondeu ao Estado, por fax, a algumas perguntas. É mais difícil escrever sobre pessoas anônimas do que sobre famosas? Gay Talese - É mais desafiante escrever sobre "pessoas anônimas", pois exige mais trabalho do autor, que ele escreva melhor, descreva melhor. É preciso fazer um retrato em palavras. É preciso descobrir uma forma de delinear o "anônimo" de tal forma que o leitor possa visualizá-lo. Penso que o jornalismo pode ser criativo sem confiar em mentiras para parecer interessante. Sou criativo na forma como organizo uma história. Pesquiso com precisão e, quando surge tempo para preparar minha pesquisa, faço a fim de (espero) estimular o interesse do leitor. Você teve alguma dificuldade para virar o espelho para si e analisar o próprio trabalho? Sim, o livro que escrevo agora (e que ficará pronto até o meio do ano) é uma reflexão sobre mim mesmo como escritor, como pesquisador e como uma pessoa cuja curiosidade desencaminha, que me leva distante do lugar que previa como ponto de chegada.