Galpão traz cinco peças a SP na festa de seus 20 anos

Companhia apresenta no Parque da Independência, no Museu do Ipiranga, e no Teatro Sérgio Cardoso suas últimas montagens, a começar por Romeu e Julieta

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O público chora e, em seguida, ri ainda com lágrimas no olhos. Não raro as duas emoções vêm simultaneamente. Tudo isso na rua, diante da montagem de Romeu e Julieta, do Grupo Galpão. Shakespeare ao ar livre, sobre pernas de pau, uma Veraneio como cenário, pitadas da prosa mineira mesclada à tradução em versos de Onestaldo de Pennafort são os ingredientes da encenação, aparentemente díspares, mas que na alquimia do encontro entre atores do mineiro Galpão e o diretor Gabriel Villela resultaram num dos mais bonitos espetáculos da história do teatro brasileiro. Quem viu não esquece. Quem ainda não viu poderá ver amanhã à noite no Parque da Independência, no Museu do Ipiranga, em São Paulo. Comemorando 20 anos de existência, o Grupo Galpão vem à cidade trazendo os últimos cinco espetáculos de seu repertório. Romeu e Julieta (amanhã e quarta) e Um Molière Imaginário (de quarta a domingo) podem ser vistos no Parque da Independência, com entrada grátis. A Rua da Amargura, Partido e Um Trem Chamado Desejo serão apresentados no Teatro Sérgio Cardoso, em curta temporada, de 10 a 27 de outubro. A companhia segue com esse mesmo repertório para o Rio e, em novembro, repete as apresentações em Belo Horizonte. "É também um ritual de encerramento. Vamos iniciar o ensaio de um novo trabalho e queremos fechar esse ciclo", diz Eduardo Moreira, um dos atores fundadores da companhia. Um presente de aniversário inesperado foi a indicação para o Prêmio Multicultural Estadão 2002. "É uma indicação que muito nos honra. Pelo alto nível dos envolvidos, nesta e nas cinco edições anteriores, talvez esse seja o prêmio teatral de maior seriedade existente hoje no Brasil." O Galpão é um dos 14 indicados da premiação que integra o programa contínuo Estadão Cultura, do Grupo Estado, de apoio ao desenvolvimento cultural brasileiro. Como nos anos anteriores, os vencedores serão escolhidos por um colégio eleitoral formado por 6 mil profissionais da cultura de todo o País. Nesta 6.ª edição, o prêmio conta com o patrocínio da Serasa S.A. A premiação é mais um presente. O Grupo Galpão tem muito o que comemorar no aniversário de 20 anos. Antes de mais nada, consolidou-se como modelo - de qualidade artística e estrutura organizacional - para todos aqueles que sonham com a difícil aventura de alcançar reconhecimento nacional e internacional a partir de um trabalho inteiramente realizado fora do eixo Rio-São Paulo. Neste ano, conseguiu um importante patrocínio da Petrobras - R$ 2 milhões anuais garantidos por um período de três anos e lança seu segundo livro, um catálogo com fotos da companhia, que estará sendo vendido em São Paulo. O primeiro, 15 Anos de Risco e Rito, conta a história do grupo, tem texto do dramaturgo Cacá Brandão fartamente ilustrado com fotos de espetáculos. Bom que a companhia venha à cidade com amplo repertório. Romeu e Julieta foi o espetáculo que projetou Galpão nacional e internacionalmente, mas está longe de ser o único trabalho de grande qualidade do grupo cuja marca, afinal, é justamente a capacidade de experimentar diferentes estilos e renovar-se sem perda de identidade. Renovação propiciada por um dado bastante original do grupo - um dos raros formado por um núcleo de atores, ou seja, não estruturado em torno da figura de um diretor. Daí a prática de convidar diferentes diretores para diferentes montagens, o que por si só já provoca mudanças de estilo. Também é prática do grupo alternar diretores convidados com concepções criadas pelos próprios atores. É o caso de Molière Imaginário, dirigida pelo "Romeu" Eduardo Moreira, novamente com dramaturgia de Cacá Brandão, "um amálgama de vários trechos da obra de Molière", na qual o dramaturgo francês passou a ser um personagem, que conta sua vida e morte. Já na premiada Um Trem Chamado Desejo, a deliciosa história de uma trupe mambembe do início do século passado, a direção ficou a cargo do ator Chico Pelúcio. Em ambas, a trupe canta, executa instrumentos musicais e, sobretudo, alcança grande empatia com a platéia. O grupo repetiu a bem-sucedida parceria com Gabriel Villela no espetáculo A Rua da Amargura, adaptação do ator Arildo de Barros para o texto de Eduardo Garrido Mártir do Calvário, uma daquelas adaptações da vida de Jesus muito encenadas nos picadeiros dos circos de interior. Mais um sucesso, mais prêmios, entre eles para o ator Rodolfo Vaz. O desejo de experimentar levou o grupo a convidar o ator Cacá Carvalho para a direção de Partido, espetáculo baseado no conto O Visconde Partido ao Meio, de Ítalo Calvino. Agora o grupo prepara-se para uma nova aventura, sob direção de Paulo José. "Ainda não definimos o texto, mas o casamento já deu certo. Estamos trabalhando sobre alguns temas. Um deles é a família. Gostaríamos de fazer uma abordagem crítica de temas contemporâneos como as guerras, o pensamento único. Mas, por enquanto, não há nada definido." Enquanto o novo espetáculo não vem, melhor não perder a oportunidade de ver ou rever o repertório da premiada companhia. Grupo Galpão - Romeu e Julieta. Duração: 100 minutos. Amanhã e quarta às 19h30; Um Molière Imaginário. Duração: 75 minutos. De quinta a domingo, às 19h30. Grátis. Parque da Independência/ Museu do Ipiranga. Acesso pela Rua dos Patriotas com Avenida Nazaré. Informações tel. 6163-3666. A Rua da Amargura. Duração: 120 minutos. A partir de 10/10; Partido. Duração: 75 minutos. A partir de 17/10; Um Trem Chamado Desejo. Duração: 100 minutos. A partir de 24/10. De quinta a sábado às 21h e domingo às 19h. R$ 10,00. Teatro Sérgio Cardoso. Rua Rui Barbosa, 153, São Paulo, tel. 288-0136.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.