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Gal Costa traz elogiado show a São Paulo

Cantora apresenta seu último trabalho, o álbum 'Recanto', feito em parceria com Caetano Veloso

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Por Redação
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Nem sempre a música eletrônica tende a ser fria. "Pode ser quente", diz Gal Costa sobre seu CD mais recente, Recanto, com canções e produção de Caetano Veloso. "Caetano disse que a coisa cool do meu canto combinava com essa sonoridade eletrônica", diz a cantora. "Eu me senti confortável porque gosto de experimentar, de ousar. Não tenho medo de fazer coisas novas, estranhas. Para você ver como a estranheza me atrai, eu me encantei a primeira vez que vi João Gilberto. Na época em que ele surgiu era tido como esquisito até para os próprios músicos." Por conta de uma "faringite misturada com traqueíte", Gal cancelou os shows que faria na Virada Cultural Paulista no próximo fim de semana. "Já melhorei, estou menos rouquinha", avisa ela, que está se preservando para a estreia em São Paulo, na quinta, 24. "No meio da crise fui me apresentar em Aracaju, consegui cumprir o contrato, mas não quis repetir essa loucura." O show, dirigido por Caetano, teve boa repercussão quando estreou no Rio e passou por outras cidades, seguindo o mesmo roteiro, que inclui clássicos caetanistas como Baby, Mãe e Divino, Maravilhoso (parceria com Gilberto Gil) e outras significativas de sua carreira. E também a joia escondida Da Maior Importância, que tem feito sucesso nos shows de Tulipa Ruiz, em sua bela versão psicodélica, "Essa música nem é tão conhecida, mas é linda e tem aquela gravação com o violão do Gil, que é superbonita. Caetano queria manter esse formato no arranjo, com aquela levada que Gil inventou", conta. Portanto, nem tudo é só eletrônico. Há momentos só com voz e violão (Folhetim, de Chico Buarque), outros mais contundentes (Divino, Maravilhoso), como as próprias canções pedem, da forma como foram gravadas por ela. "Em algumas procuramos manter a mesma sonoridade do disco novo para dar uma certa unidade. Mas também tudo o que fiz no passado tem a ver com o que faço hoje. Coisas eletrônicas, arrojadas, que fiz nos anos 60 têm a ver com Recanto", lembra. "Então, isso não é estranho na minha vida. Ele se adapta, se integra à minha história, que se mistura com a de Caetano. Minha história pede, permite, tem abertura para que eu faça tudo." De fato, só de ter aceitado participar do projeto experimental do eterno parceiro, já é uma ousadia da atual Gal Costa, que se descabelava (não só no sentido literal, mas artístico) ao som da guitarra distorcida de Lanny Gordin no início da década de 1970, cantando rock e outras pedradas de Jards Macalé. Há canções entrecortadas de Recanto que fazem Gal conduzir a voz para fora da zona de conforto. Tudo Dói é sua predileta, entre as 11 do CD, 9 das quais são inéditas. As outras são Madre Deus (também regravada recentemente por Jussara Silveira) e Mansidão (feita de encomenda para Jane Duboc há 30 anos). Desde o lançamento em dezembro, há quem venha se referindo a Recanto como um álbum de Caetano Veloso com a voz de Gal Costa. "É um disco de composições de Caetano, em que ele diz o que quer falar. Agora, fez pensando na minha voz cantando", diz Gal. Apesar de boa acolhida da crítica e dos fãs no Brasil e no exterior, não faltou quem achasse o álbum frio, artificial, em que a cantora explora a técnica pretendida por Caetano, que coproduziu o álbum com Moreno Veloso, mas descuida do lado emocional. Tudo Dói é aquela com a qual mais se identifica, 'porque é a mais joão-gilbertiana". "Tem a síntese da bossa nova, mais especificamente de João Gilberto. Tem essa estranheza tanto nos versos, como na sonoridade da melodia e na harmonia. E a que mais me emociona é Recanto Escuro, a ponto de eu ter chorado muito quando ouvi pela primeira vez."

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