23 de novembro de 2012 | 11h34
Tem mais tropicalismo nas telas. Pretérito do Futuro - Tropicalismo Now! reabre a discussão sobre um assunto que sempre mexe com críticos, historiadores e o público, desde a polêmica quanto ao uso da guitarra elétrica na MPB de Domingo no Parque, a música manifesto de Gilberto Gil no Festival da Record de 1967. Ninho Moraes e Francisco César Filho assinam conjuntamente a direção. O documentário reúne entrevistas, intervenções artísticas, esquetes e imagens do show de André Abujamra.
O objetivo não é olhar a Tropicália numa perspectiva histórica - embora ela esteja presente. A ideia é criar a ligação entre os eventos ocorridos no fim da década de 1960 e a atualidade.
O que o tropicalismo tem ainda a dizer/oferecer às pessoas? A palavra de ordem - Tropicalismo Now! - é prova de que sim, o movimento ainda está vivo, na memória coletiva e no imaginário dos artistas. Você pode estranhar os nomes de Gero Camilo, que aparece na foto, e Alice Braga no elenco. Alice é filha do codiretor Moraes. Ela faz a Gioconda suburbana, Lindoneia, inspirada no quadro de Rubens Gerchman que motivou Caetano a compor a música. O conceito de Pretérito do Futuro é extrapolar o documentário no rumo do docudrama, uma coisa que Sylvio Back gosta de fazer (e faz em O Contestado - Restos Mortais, que também estreia nesta sexta).
A origem está no show de André Abujamra no Teatro de Arena. Abu rearranjou músicas famosas da época, deu-lhes novas roupagens e é assim que elas ganham a tela, dando razão a Gilberto Gil, quando diz que o tropicalismo está vivo - tão vivo que foi tema de uma reportagem do The New York Times. E por que está vivo? Porque ainda nos expressa. Neste sentido, é bom que o espectador não veja Futuro do Pretérito isoladamente, mas em conjunto com outros filmes com os quais se articula - o citado Tropicália, Uma Noite em 67, de Ricardo Calil e Renato Terra, o próprio Dzi Croquettes, de Raphael Alvarez e Tatiana Issa, que nasceu da vontade de uma filha de conhecer seu pai, integrante do grupo.
O que todos esses filmes revelam é um desejo de contestar, de romper limites, de criar alternativas. Em plena ditadura militar, os tropicalistas estavam confrontando/desafiando a autoridade. Mais de 40 anos depois, o quadro político é outro no País, mas ainda existem limites a confrontar. No cinema, há toda uma luta por mercado, por um cinema que coloque na tela a cara do brasileiro. Na verdade, essa luta não é nova e já era a dos cine-novistas dos anos 1960, mas ela ainda não foi ganha (e talvez nunca seja). Qual é o cinema que nos reflete?
Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now! - Direção: Ninho Moraes e Francisco César Filho. Gênero: Documentário (Brasil/ 2012, 76 minutos). Classificação: Livre.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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