Fundação nega paralisia

Nova diretoria diz que está colocando a casa em ordem e afirma que nova exposição pode ocorrer ainda em julho

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Por Camila Molina
Atualização:

Há mais de um ano, está em cartaz no espaço da Fundação José e Paulina Nemirovsky, na Estação Pinacoteca, a mesma exposição, A Casa da Rua Guadelupe, com obras e peças de mobiliário e objetos da residência do casal de colecionadores que dão nome à instituição. No segundo andar do museu, quase sem visitantes, a permanência, por tanto tempo, das mesmas obras no espaço expositivo não condiz com o turbilhão pelo qual a fundação, detentora de uma coleção avaliada em R$ 320 milhões, passou em 2011 - ameaças judiciais, renúncia e troca total do conselho e direção da entidade, com intervenção do Ministério Público Estadual. A fundação, no entanto, ainda lida com dificuldades orçamentárias e prestações de contas."Meus pares culturais, outros gestores, perguntam: e aí, e a Nemirovsky? Digo que estamos acertando a base para pensar adiante", diz Roberto Bertani, superintendente-geral e curador artístico da instituição. A nova gestão da Fundação José e Paulina Nemirovsky começou, oficialmente, em 19 de setembro de 2011, quando o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi empossado para a presidência do conselho da instituição - até o fechamento desta edição, ele não havia respondido as perguntas enviadas pelo Estado. Novos conselheiros e diretoria foram escolhidos e a filha de José e Paulina Nemirovsky, Beatriz, que, descontente com a gestão anterior, desencadeou o processo de crise na fundação (leia abaixo), tornou-se patrona vitalícia da entidade. Mas, desde a mudança, quais foram as ações realizadas na instituição, aparentemente paralisada? "As pessoas pensam que muda-se algo quando se tem uma movimentação, como uma nova exposição. Para tudo acontecer, temos de ter o plano anual da fundação aprovado para depois sairmos para captação de recursos", explica o atual diretor executivo da Nemirovsky, o advogado Fernando Mauro Barrueco, sócio da empresa Actum Projetos Culturais.O plano anual pleiteado pela fundação para 2012, ainda em análise pelo Ministério da Cultura, é de R$ 1,78 milhão. "Ainda está em aprovação para o segundo semestre e vamos montar também o de 2013", diz Barrueco. Parte desse montante será usado na substituição da exposição A Casa da Rua Guadelupe, concebida por Maria Alice Milliet, antiga curadora da fundação, e inaugurada em março de 2011 (outra mostra, com obras de arte sacra pertencentes ao acervo, está em exibição no local desde agosto de 2010). Entretanto, Bertani conta que a exposição inaugural da nova gestão está prevista apenas para julho, tendo como título provisório Modernismo na Fundação Nemirovsky."Desde que chegamos, em setembro, a fundação está sendo mantida pela família, que gasta em torno de R$ 25 mil mensais. Estamos bem integrados com a equipe da Pinacoteca, mas não tivemos nenhum interlocutor para indicar o caminho das coisas", diz Bertani. Segundo ele, um dos problemas enfrentados é a prestação de contas de projetos do Fundo Nacional de Cultura, aprovados em 2010 e orçados em cerca de R$ 450 mil, que teve sua execução suspensa em maio de 2011 por causa do afastamento de toda equipe da gestão anterior, que tinha conselho presidido pelo arquiteto Jorge Wilheim.A falta de dinamismo da Nemirovsky se percebe, ainda, em seu site, que não está finalizado e na sua falta de equipe. Estão nos planos da nova gestão alterar o layout do espaço da fundação, para promover uma ligação entre seu espaço expositivo e sua biblioteca e centro de referência. "O valor do plano anual parece ousado, mas considere que a nossa proposta certamente sofrerá ajustes pelo Ministério da Cultura", diz Bertani. O montante prevê contratação de funcionários e as "ações fundamentais" questionadas, como assegura o superintendente.Semanalmente, chegam cerca de cinco pedidos de empréstimos de obras da fundação, o que dá uma medida da importância da coleção criada pelo médico e empresário José Nemirovsky (morto em 1987) e sua mulher, Paulina (morta em 2005), uma das mais importantes e valiosas do País, tendo como destaque o modernismo brasileiro. Formada por 271 obras, foi tombada em fevereiro deste ano pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Barrueco conta que o colecionador argentino Eduardo Costantini, proprietário do quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, chegou a oferecer US$ 35 milhões pela tela Antropofagia, criada pela pintora modernista em 1929 e que representa o ponto alto da coleção Nemirovsky, uma espécie de "Mona Lisa do acervo", como brinca Bertani - atualmente, a pintura está em exposição no Rio de Janeiro. "Mas agora as obras da coleção são inalienáveis", afirma o diretor executivo Fernando Barrueco sobre um dos pontos da mudança do estatuto da fundação.A instituição, criada nos anos 80, e seu acervo adquiriram caráter público em 2004, quando Paulina Nemirovsky assinou contrato de comodato com o governo do Estado de São Paulo e, por meio dessa parceria, a fundação e suas obras ganharam o segundo andar da Estação Pinacoteca - o convênio foi renovado em 2011, para mais 20 anos. Outros planos são realizar a partir de 2013 mostras em parcerias com outras instituições e colecionadores, como a venezuelana Cisneros ou a portuguesa Berardo. A aquisição de peças também é discutida. "Não temos, por exemplo, nenhuma obra de Anita Malfatti", diz Bertani.

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