10 de setembro de 2015 | 02h00
Essa crise dos refugiados do terceiro e quarto mundo que invadem a Europa e desafiam os bons sentimentos e a hipocrisia de todos é uma estranha questão de fronteira em que a diplomacia não tem o que fazer. A diplomacia trata do convívio civilizado entre nações, o que inclui respeito às fronteiras. Na fronteira real entre miseráveis desesperados, que arriscam a vida para melhorar de vida, e os países ricos, as regras e convenções da diplomacia são irrelevantes como qualquer outra forma de afetação social.
A fronteira real entre desiguais no Mediterrâneo é a mesma que vemos da nossa janela. A desigualdade como fator principal da perpetuação da miséria não é um foco recente da análise econômica, mas ganhou força com a súbita notoriedade do economista francês Thomas Piketty, um especialista no assunto, que demoliu a tese dos neoliberais de que basta soltar as rédeas do mercado para tudo dar certo, ou pelo menos o que eles chamam de certo. Os refugiados que nasceram do lado errado da fronteira real têm o recurso da fuga para a Europa, mesmo dependendo de atravessadores escrupulosos, boas condições atmosféricas e o bom coração dos europeus. Quem nasce no lado errado da fronteira real, que divide desiguais no Brasil, só pode esperar que a política convencional seja a saída - um dia. Até ser destruído, pela reação e por ele mesmo, o PT parecia ser um caminho. Não era. Poucos conseguem cruzar a fronteira real brasileira. Quando o fazem, é por distração.
No resto do mundo, as fronteiras reais são mais ou menos nítidas. Até nos Estados Unidos, modelo dos frutos do capitalismo sem rédeas, há desigualdade crescente e bolsões de miséria. A maioria dos refugiados que conseguir chegar à Europa terá sobrevivido, mas não necessariamente cruzado a fronteira real no país que a receber. Enfim, é desanimador. E ainda por cima, o Internacional em má fase...
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