Frateschi abre fogo contra ministro, que devolve o tiro

Ex-dirigente da Funarte se queixa de 'falta de consideração' de Juca Ferreira, que o chama de 'autoritário'

PUBLICIDADE

Por Beth Néspoli e Jotabê Medeiros
Atualização:

Celso Frateschi caiu atirando. O pedido de demissão do presidente da Funarte, na noite desta segunda, 6, parece configurar a primeira crise política da gestão recém-iniciada de Juca Ferreira à frente do Ministério da Cultura.   Veja também: Leia a íntegra da carta de demissão de Celso Frateschi    Na carta de demissão de Frateschi, os alvos parecem muitos, mas há um que parece claro: o atual ministro Ferreira, que tem dito, desde que assumiu, que a Funarte "tem problemas" e deverá ser inteiramente redefinida, assim como seus objetivos redimensionados.   "A frase é corretíssima e poderia, com certeza, ser estendida ao Ministério da Cultura", alfinetou Frateschi logo no início de sua carta de demissão. Segundo Frateschi, sua gestão estaria "enxugando gelo" na instituição, que enfrentava desprestígio e falta de recursos, e ainda assim teria sido acusada de atrasar programas do governo.   Nesta terça, 7, falando ao Estado ainda da sede da Funarte, no Rio de Janeiro, ele reafirmou sua noção de que houve "falta de consideração" da parte da cúpula do MinC. "Claramente, no momento em que 15 funcionários da Funarte fazem uma carta mentirosa, que eu desmontei ponto por ponto, e o Minc dá eco a essa carta sem falar comigo, presidente Celso Frateschi, isso significa que há uma desconsideração", afirmou. "Se você perde a confiança no seu funcionário, você o demite. Na hora que perde a confiança no seu chefe, você se demite."   Problemas   A gestão de Celso Frateschi na Funarte, iniciada em 2007, recebeu as seguintes acusações: primeiro, há alguns dias, o jornal O Globo divulgou que o projeto do grupo Ágora, da mulher de Frateschi (a coreógrafa Sylvia Moreira), teria obtido aprovação em tempo recorde de apenas 6 dias, a despeito dos problemas com trâmites legais dentro da fundação.   Frateschi rebateu a acusação dizendo que a Petrobras tinha demonstrado interesse no projeto do Ágora desde julho de 2007, e que era um projeto que dava seqüência a outro, daí a urgência. Sua análise rápida teria sido fruto de intervenção legal do apoiador, não da cúpula da fundação.   A segunda acusação veio da Asserte (associação de servidores da fundação), que acusou a Funarte de ter "atuação pífia" e ser "mera repassadora de verbas", de conduzir editais "mal elaborados, confusos e mal redigidos", com "exigências absurdas e vários equívocos", entre outras. Frateschi argumentou que a fundação mantém o maior programa de bolsas da história do ministério, que está reformando teatros, adquirindo salas e instaurando editais.   O ministro Juca Ferreira considerou que Frateschi foi vitimado por um "conflito radical" que estabeleceu com os funcionários da Funarte, e que o dirigente era "autoritário". Mas o defendeu da acusação de irregularidade. "Foi uma injustiça terem divulgado aquilo como uma forma de privilégio. Nós demos preferência a projetos que já tinham patrocínio assegurado, e o da mulher dele entrou nessa leva".   O ministro afirmou que vai nomear umpresidente-interino para a Funarte e que, em 20 dias, já terá anunciado o substituto. "Não quero brigar com o Frateschi. Ele estabeleceu uma crise. Os funcionários não agüentaram a gestão dele". Em carta, Frateschi insinua que houve uma conspiração contra sua pessoa. "Uma legião de lobistas perdeu o emprego e isso os perturba."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.