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Frank Gehry planeja novo Guggenheim em NY

Por Agencia Estado
Atualização:

Se a Prefeitura aprovar o projeto, Nova York deve ganhar mais um marco da arquitetura mundial: uma gigantesca escultura (veja foto acima) flutuante com largas faixas onduladas de titânio e torres de vidro à margem do East River, no sul de Manhattan, que abrigará o novo Guggenheim Museum. O projeto é do arquiteto americano Frank Gehry, o mesmo que criou o admirável Guggenheim Museum Bilbao, na Espanha. Desenvolvido nos últimos dois anos, o trabalho está em exposição numa das galerias do edifício principal do museu na 5ª Avenida, a grande obra de arte do arquiteto Frank Lloyd Wright, a quem Gehry homenageia na mostra como sua inspiração. Maquetes, plantas, fotografias, vídeos e planos de utilização para o novo museu são um espetáculo da mais moderna arquitetura e uma forma de fazer lobby, para que a cidade aprove o projeto. Em 1998, a Fundação Guggenheim perdeu a chance de construir seu novo museu numa área à beira do Hudson River porque, segundo a companhia municipal que direciona o desenvolvimento urbanístico, não especificou seus planos a tempo de eles serem avaliados. A área acabou concedida para projetos de recreação que vão valorizar um conjunto de edifícios construído por Donald Trump. O plano atual foi apresentado à Prefeitura numa concorrência aberta no ano passado e espera-se que a definição seja anunciada ainda neste semestre. A exposição, que não tem data para fechar, é uma maneira de conquistar a opinião pública a favor do museu. Este disputa a área com vários outros projetos, entre os quais os de um aquário, um hotel e uma construtora de barcos. Para a região da cidade que já é pontuada por grandes ícones arquitetônicos como a centenária Brooklyn Bridge e as modernas torres gêmeas do World Trade Center, Frank Gehry imaginou uma metáfora derivada deste contexto: "um arranha-céu emergindo da neblina ou de uma nuvem". Seu novo museu emerge literalmente das águas do rio. Como uma nuvem, tal como o arquiteto gosta de comparar. Jardins de esculturas, pontes, um calçadão à beira d´água e outros espaços públicos abrem-se em plataformas no formato de pétalas, conectadas e erguidas sobre três piers (atualmente, um deles está semidestruído e os outros são ocupados por quadras cobertas de tênis). Daí, levantado por seis colunas de aço e concreto, um frontão de faixas de titânio, que o arquiteto chama de wrappers (invólucros), enlaça uma torre inclinada com 137 metros de altura e rodeada por blocos de vidro. De cada lado desse conjunto, há uma estrutura em forma de caixa; uma delas deve abrigar um teatro de 1.200 lugares e a outra, um terminal de transporte aquático. A tecnologia para construção sobre a água foi desenvolvida na Holanda e o custo da execução do projeto está previsto entre 500 milhões e 850 milhões de dólares. Arte e economia - A intenção é ocupar o novo Guggenheim principalmente com arte contemporânea. "Apesar do acréscimo de um anexo e da reforma realizada no prédio da 5ª Avenida em 1992, o museu não tem em Nova York um espaço adequado para exibir grande parte de sua coleção", argumenta Thomas Krens, diretor da instituição. "Há um espaço muito pequeno para abrigar arte contemporânea, cuja tendência é ser baseada em instalações, marcada pela nova mídia eletrônica e definida por um crescimento radical na escala." A Fundação Guggenheim - a primeira instituição cultural internacional no mundo, com museus em Veneza, Berlim e Bilbao - também tem em Nova York uma extensão no Soho, que já perdeu parte de suas instalações para uma grife italiana de roupas e poderá ser fechada. O museu no East River terá cerca de 465 mil metros quadrados só para exposições - quase dez vezes a área do Guggenheim da 5ª Avenida -, divididos por 36 galerias que variam de 120 a 185 metros quadrados cada uma. Já existe uma obra com instalação prevista no ringue existente abaixo do frontão de titânio. É a escultura "Knife Ship I", de Claes Oldenburg, peça principal da performance criada pelo artista, em parceria com Frank Gehry e Coosje van Bruggen, na Bienal de Veneza de 1985. Num acordo preliminar condicionado à construção do novo museu, o artista plástico texano Robert Rauschenberg deverá doar ao Guggenheim uma seleção de mais de cem de suas grandes pinturas e esculturas, desenhos e fotografias. As obras deverão ser exibidas continuamente no espaço reservado para a coleção permanente do museu, que também abrigará os arquivos de Rauschenberg, um centro de pesquisa e educação e a parte administrativa da Robert Rauschenberg Foundation. "A obra-prima que Frank Gehry criou para o novo Guggenheim será uma inspiração para todos nós e vai impulsionar a atividade cultural em todo o mundo", diz Rauschenberg. "O novo museu será um porto para a mais instigante arte global, mantendo a primazia de Nova York como pioneira internacional da cultura." Reforçando seus argumentos para pleitear a área em Lower Manhattan, a Fundação Guggenheim apresentou à Economic Development Corporation (EDC) uma análise preliminar do impacto que o novo museu proposto poderia ter na economia da cidade. Com a previsão de 2,5 milhões a 3,5 milhões de visitantes ao ano no museu (o da 5ª Avenida recebe em média 1 milhão de visitantes/ano), seriam criados entre 4.300 e 6.700 empregos permanentes. O museu e os gastos relacionados a ele poderiam gerar uma renda anual calculada entre 570 milhões a 710 milhões de dólares e o aumento nos impostos municipais e estaduais cresceria entre 50 milhões a 70 milhões de dólares por ano. Isso sem contar o que viria de outras construções comerciais e residenciais que podem surgir no vácuo desse superempreendimento cultural. O projeto integra a área industrial à beira do East River com os distritos históricos e de negócios da cidade, centralizados em Wall Street, que fica a poucos quarteirões dali. Cópia - Depois da inauguração do Guggenheim Museum de Bilbao, em 1998, o escritório Gehry Associates (em Santa Mônica, na Califórnia, onde Frank Gehry, de 71 anos, rege cerca de 120 auxiliares) tornou-se um dos mais procurados do mundo. Principalmente para projetos relacionados à arte. Só nos Estados Unidos, atualmente, ele é responsável por um espaço adicional à Corcoran Art Gallery, em Washington, pelo Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, e pelo Experience Music Project, uma espécie de museu interativo para música e templo a Jimi Hendrix, erguido em Seattle e fundado pelo bilionário da informática Paul Allen. Além desses, há a concha acústica que Gehry desenhou para o Millennium Park Music Pavilion, em Chicago, que deve estar pronto no ano que vem. Nesse trabalho, o arquiteto exibe sua genialidade em resolver questões técnicas. Para evitar a instalação de torres com amplificadores de som, ele desenhou uma estrutura de treliças em arco que flutua sobre o gramado onde a platéia deve ficar, tocando o chão apenas numa das bordas, que é sustentada por colunas. O sistema de amplificação é montado nas treliças, fazendo o som cobrir a platéia. Em Nova York, o traço de Gehry é visto apenas na recém-inaugurada cafeteria no edifício da editora de revistas Condé Nast, na Times Square. A sala, com 7,5 metros de altura e espaço para 50 mesas, tem paredes de titânio azul e repartições de vidro curvilíneas. A cafeteria é exclusiva dos funcionários da editora. Mas está sempre lotada de gente que se esforça para ser convidada a conhecer o lugar onde vale a pena pagar 4,50 dólares por uma porção de arroz e sentir-se dentro de uma obra de arte. Se aprovado, o novo Guggenheim Museum será a primeira construção pública do arquiteto na cidade. Embora uma obra no estilo do museu de Bilbao seja invejável, o projeto da "nuvem" que Gehry criou para Manhattan já recebeu críticas, acusado de ser uma cópia do museu basco. "Eu nunca faria isso", defendeu-se o arquiteto na apresentação do projeto para a imprensa. Salientando que o que está sendo apresentado na exposição "Project for a New Guggenheim Museum in New York City" ainda é um trabalho em andamento, ele admitiu como semelhança apenas a cor do metal usado nos seus "wrapers". "Parte do meu trabalho agora é explorar cor e posso facilmente mudar de linguagem", avisou Gehry. Sem dar importância às críticas e mesmo antes do resultado da concorrência pelo espaço em Lower Manhattan, o presidente da Fundação Guggenheim, Peter Lewis, diz que "este projeto será construído de qualquer maneira em algum lugar de Nova York, mesmo que não seja na área que agora está em questão". No ano que vem, a fundação pode retomar os planos de abrir um museu na América do Sul. Thomas Krens, que esteve em São Paulo no ano passado fazendo contatos preliminares, diz que, por enquanto, ainda está discutindo com o organizador da Mostra do Descobrimento, Edmar Cid Ferreira, a apresentação dessa exposição em Nova York. "Mas há uma razoável possibilidade de estudarmos a viabilidade de um museu em algum lugar no Brasil", acena o diretor do Guggenheim. Se a idéia for adiante, talvez Frank Gehry também deixe a sua marca em solo brasileiro.

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