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Fotos e filmes lembram Marlene Dietrich

Por Agencia Estado
Atualização:

Josef Von Sternberg foi seu Pigmalião, mas nunca houve Galatéia que se prestasse mais à escultura do próprio mito do que Marie Magdalene Von Loesch. Só os cinéfilos de carteirinha sabem que é (ou foi). Mas basta dizer o nome mágico - Marlene - que o inconsciente coletivo se agita e ilumina. Não é preciso nem acrescentar o sobrenome famoso - Dietrich. Marlene, na história do cinema, houve só uma. Houve só ela. Comemora-se este mês o centenário de nascimento de Marlene. Sempre houve controvérsia, se ela teria nascido em 1901, 1902 ou 1904, no dia 2 ou 27. A data oficial ficou sendo o 27 de dezembro de 1901. Para assinalá-la, o Instituto Goethe promove uma exposição de fotos e exibe dois filmes. Hoje e quarta, exibe, às 20 horas, "O Anjo Azul", de Sternberg, que foi justamente o filme que revelou Marlene. Na terça e quinta, também às 20 horas, Marlene, o documentário dirigido pelo ator Maximilian Schell. E há a exposição: 38 fotos que registram, de 1906 a 1966, a trajetória da mulher que se tornou um dos mitos mais fulgurantes do cinema. "Ich bin von Kopf bis Fuss auf Liebe eingestellt" - é o que canta Lola-Lola em "O Anjo Azul", que o vienense Sternberg, já diretor nos EUA, foi rodar para a UFA na Alemanha. "Sou cheia de amor, da cabeça aos pés." Foi assim que Marlene entrou para o imaginário dos fãs de cinema de todo o mundo. Cantando e com as pernas de fora - as pernas que seriam consideradas, depois, as mais belas do mundo e que ajudaram a esculpir o mito. É discutível que essas pernas tenham sido mesmo as mais belas. Afinal, houve aquelas duas pilastras harmoniosamente esculpidas pela natureza na atriz, mulher e dançarina que reinou no musical. Ruy Castro, com certeza, diria que as pernas de Cyd Charisse foram mais bonitas. Ou as de Silvana Mangano em "Riso Amargo", que Giuseppe De Santis realizou em pleno apogeu do neo-realismo. Mas a versão oficial diz que foram as de Marlene. As fotos são todas lindas. Ajudam a entender como e por que Marlene virou parte importante desse fenômeno cinematográfico e social que se pode chamar de divismo - o culto da estrela. Ela já havia feito alguns filmes, mas estava tão insatisfeita com o cinema que queria parar com ele, para se dedicar só ao teatro, ou ao café-concerto. Foi quando surgiu Sternberg. A partir de "O Anjo Azul" e, depois, através de mais seis filmes - "Marrocos", "Desonrada", "O Expresso de Xangai", "A Vênus Loira", "A Imperatriz Galante" e "Mulher Satânica" -, ele ofereceu a Marlene papéis que fizeram dela a sedutora mais irresistível e perversa da tela. Marlene foi (e ainda é) a mais perfeita encarnação da vamp. Greta Garbo foi uma estrela insondável e misteriosa que reinou no firmamento de Hollywood nos anos 30 e 40, na mesma época em que Sternberg levou Marlene para os EUA e fez dela uma grande estrela norte-americana. Nos 50, Marilyn Monroe encarnou a passagem do mito à condição de mulher, mas foi preciso esperar até os 70 para que, com Jane Fonda, a estrela se tornasse totalmente mulher e participante. Ao contrário de Garbo, Marlene nunca foi uma esfinge. E também nunca se isolou. Foi à luta contra Hitler. Vestiu-se de homem, beijou mulheres na boca e embaralhou os papéis sexuais, jogando com essa ambivalência para impor um tipo de mulher dominadora. As fotos são todas lindas. Confirmam aquilo que os semiólogos não se cansam de dizer. Assim como Garbo era um rosto, Marlene era um corpo que Sternberg transformou em objeto de desejo. Foi uma atriz de belos papéis, mas, para a construção do próprio mito, nem precisou representar. Bastava olhar para a câmera, tragar um cigarro e, envolta na fumaça, não expressar nada, o que, às vezes, você sabe, é a melhor maneira de expressar tudo. "Marlene Dietrich - Uma Lenda em Imagens". Exposição fotográfica, de segunda a sábado, a partir das 9 horas; mostra de filmes, de 10 a 13/12, às 20 horas. Grátis. Instituto Goethe. Rua Lisboa, 974, tel. 3088-4288. Até 13/12

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