Fotógrafos da "Agência Estado" participarão da Bienal de Veneza

Curadoria selecionou os registros de imagens que serão levados à mostra de arquitetura junto com 24 projetos sobre o tema das favelas

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Por Agencia Estado
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Na representação brasileira que vai à 8.ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, em setembro, estarão seis fotos de profissionais da Agência Estado. Foram escolhidos registros de Sebastião Moreira, Paulo Liebert e Monica Zarattini. O Brasil vai a Veneza com o tema Next Cities: Cities without Slums (Próximas Cidades: Cidades sem Cortiços), e é esse o foco das fotografias que a AE selecionou. "Procuramos escolher trabalhos que fossem caracteristicamente urbanos", disse Glória Bayeux, curadora da representação brasileira - ao lado de Elisabete França. "Não estamos levando a Veneza a solução para o problema habitacional, mas uma visão crítica da questão", afirmou Elisabete. "Dentro do que é possível fazer, os arquitetos e artistas estão mostrando suas idéias." As curadoras escolheram também fotos de outras duas agências brasileiras: Folha Imagem e Editora Abril. Dois fotógrafos independentes terão ensaios de destaque na mostra. Eles são André Cypriano e Lalo de Almeida. A direção da Bienal de São Paulo estuda a possibilidade de cobrir toda a fachada do pavilhão do Brasil em Veneza, nos Jardins do Castelo, com uma foto de Cypriano mostrando a Favela da Rocinha, no Rio. Na área de arquitetura propriamente dita, o Brasil mostrará 24 projetos de 12 arquitetos e escritórios brasileiros que apresentam propostas para o sistema de "improvisação eterna" das favelas brasileiras. As intervenções nas favelas estarão ilustradas também com fotos, mostrando o "antes" e o "depois" das mudanças. Seleção - O critério para a escolha dos arquitetos que estarão representando o Brasil, segundo Elisabete França, foi definido por um período de tempo. "Escolhemos apenas projetos que tenham sido implantados nos últimos cinco anos e que se diferenciam dos outros pela integração com outros setores, pela tentativa de resolução de problemas conexos, como a busca por novas situações de emprego", disse ela. Glória Bayeux lembrou que um dos arquitetos convidados para a mostra, genericamente intitulada Next, é Richard Rogers, profissional que preconiza a solução arquitetônica atrelada ao racionamento de energia, de água, da reciclagem de materiais. A escolha do tema das favelas é justificada pela curadora Bete França da seguinte maneira: "O que é fundamental para nós, brasileiros? Levar um edifício inteligente? Acho que essa é uma tarefa para os japoneses. Qual é a nossa questão prioritária que tem de ser enfrentada, superada? É a questão da habitação. É como dizia o Artigas: a habitação não termina na soleira da porta da nossa casa." Na representação brasileira, pela primeira vez, há um estrangeiro. Trata-se do camaronês Pascale Martine Tayou, um dos destaques da 25.ª Bienal de São Paulo. "Ele fez sua instalação justamente em cima de uma questão brasileira", justificou Glória Bayeux. "A Bienal comprou a instalação do Tayou e optou por levá-la porque ela tem tudo a ver com o tema que a gente está mostrando." Segundo Bete França, Tayou "fez uma leitura muito bem-feita da realidade do Brasil, dando-lhe ainda uma graça, um charme de artista plástico, e nós queremos dar uma idéia do ambiente em que as pessoas vivem nessas comunidades." A busca por uma estratégia mais atraente de exibição vem do fato, também, de que as mostras de arquitetura - no Brasil e no exterior - tem se caracterizado por uma limitação de recursos multimídia. O pavilhão do Brasil em Veneza é pequeno, mas tem uma área envoltória privilegiada, ampla, que deve também ser usada para a mostra. A ligação de temas entre a Bienal de São Paulo e as representações brasileiras em Veneza e outras mostras internacionais foi outra preocupação das curadoras. "A idéia é sempre estar conectando esses eventos", diz Glória. "Em geral, nós vamos com arquitetura de arquitetos a Veneza, mas desta vez vamos com essa arquitetura não individualizada, com soluções sociais", pondera. Ela considera que, para os arquitetos brasileiros, transformar as favelas e dar-lhes melhores condições de habitação tem sido um desafio novo e gigantesco. "Cliente novo, desafio grande", ela diz. "E o fato é que ninguém nunca trabalhou com esse cliente, que é exigente, discute materiais, tem idéias muito bem definidas sobre as mudanças que quer." Ela exemplifica com um caso muito pessoal. "Eu descobri, trabalhando em uma comunidade, o porque de não se usar areia para fazer canchas de futebol", lembra. "Os animais fazem as necessidades ali, gatos e cães, e aquilo acaba trazendo doenças para as crianças." A questão da transformação de favelas no Brasil desafia de fato urbanistas e políticas urbanas. Segundo o IBGE, são 5 milhões de pessoas vivendo em favelas no País. De acordo com a Fundação João Pinheiro (MG), são 5,4 milhões. Os arquitetos escolhidos para integrar a representação brasileira são os seguintes: Paulo Bastos e Jorge Jáuregui (que dividiram prêmio de urbanismo na edição de 1999), João Walter Toscano, Pablo Benetti, Archi 2 Arquitetos Associados (Alder Catunda, Bruno Fernandes, Roberto de A. Nascimento, Octávio Henrique Reis e Pedro da Luz Moreira, do Rio de Janeiro), Manoel Ribeiro, Casulo - Arq. e Urbanismo (Humberto Kzure-Cerquera e Laurentina Menezes Valentim, do Rio de Janeiro), ArquiTraço (Daniela Engel Aduan, Gerson Feres Biscotto, Kátia Brakarz, Maria Cláudia Faro, Solange Faro e Tatiana Terry, do Rio de Janeiro), Demetre Anastassakis, Raimundo de Pascoal, Pasqual Guglielmi e o escritório Portela Boldarini (Marcos Boldarini, Ronaldo Pezzo, Gláucia Varandas e Rita Canutti, de São Paulo).

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