Fotógrafo Arnaldo Pappalardo abre duas exposições na cidade

Na mostra que começa nesta sexta e na que é inaugurada no dia 15, os registros discutem a formação da imagem

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Por Redação
Atualização:

Em uma época em que a fotografia, ou a imagem, parece surgir à nossa frente de forma natural, o fotógrafo paulistano – que mais parece um professor Pardal – Arnaldo Pappalardo não consegue sossegar.

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Arquiteto de formação nascido em 1954, desde 1976 se dedica à fotografia publicitária. Criador, pesquisador, há muito tempo seus trabalhos tentam discutir a formação da imagem. Não é diferente nestas duas exposições que ele abre na cidade – com cinco dias de diferença –, o que ele busca é como a imagem se forma, nasce e se comunica. Na mostra Tavoletta, que será inaugurada nesta sexta (9) no Museu da Casa Brasileira, ele exibe sua pesquisa dos conceitos de perspectiva estudados pelo arquiteto e escultor renascentista italiano Bruno Brunelleschi (1377- 1446) sobre como vemos e enxergamos. Relacionar o espaço e aquilo que aparece à nossa frente. “Na época do renascimento italiano, câmaras escuras eram muito utilizadas pelos pintores, pois permitiam desenhar perspectivas a partir da formação de imagens do mundo real em seu interior”, diz ele.

Para tanto, criou uma exposição lúdica em que as mais diversas formas de imagem comparecem: dípticos, trípticos, espelhados, filmes Super-8 e até a construção de uma câmara escura nos jardins do museu, na qual será possível entrar e ver os princípios da construção da imagem assim como foi vista pelos artistas do renascimento. Praticamente uma releitura da câmara escura.

A tavoletta de Brunelleschi nada mais era do que uma madeira com um orifício acoplada a um espelho, que seriam usados pelo italiano para provar os princípios da perspectiva. Como escreve no texto do catálogo o filósofo Nelson Brissac Peixoto: “O recurso do orifício na tavoletta obrigava o espectador a observar a pintura, refletida no espelho, do mesmo ponto de vista em que se colocara o pintor. Ou seja: o pequeno furo corresponde à altura proporcional em que ele se tinha posto para desenhar”.

E é dessa maneira que Arnaldo Pappalardo pretende nos apresentar suas inquietações sobre o que é imagem: “Não sou o único nem quero provar nada. Vide o maravilhoso trabalho do fotógrafo cubano Abelardo Morell, que também usa o artifício da câmera escura”. Não se trata de artifício, mas sim de compreender como a imagem se forma e se relaciona com o espaço e com o que vemos.

A exposição é uma forma de pensar a imagem em suas várias possibilidades, além de discutir – ou talvez propor uma discussão – questões da arte contemporânea, como o simulacro, os truques tecnológicos e as fáceis “receitas” com as quais são apresentados os trabalhos fotográficos na maioria das galerias, atualmente. Tecnologia acima do pensar. E parece ser contra isso que vai a pesquisa de Pappalardo, que levou quase 3 anos para ser concluída: “Nesse ensaio, a palavra alteridade está muito presente e me interessa bastante. Esse encontro de formas diversas que se transformam: fotografia, música, pintura, arquitetura, experimentação”.

E é nessa mesma linha de pensar a imagem na atualidade que ele inaugura, no dia 15, na Fauna Galeria, a mostra No Where Now Here, com 26 registros que confrontam analógico e digital, cor e preto e branco, movimento e estático. São imagens despretensiosas feitas em vários lugares do mundo. Mas não é isso o que importa, não é a referência, mas, mais uma vez, o tentar compreender como as imagens se relacionam, como são vistas e as relações inusitadas que se estabelecem entre elas.

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Pensar a imagem se torna fundamental nesse momento em que somos inundas por elas. A pesquisa de Arnaldo Pappalardo nos ajuda a parar e refletir sobre o que estamos vendo, mas, acima de tudo, como estamos vendo.

 

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