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Fórum para escritores indesejados

Autodafe é a revista do parlamento internacional dos intelectuais perseguidos, como o curdo Salim Bakrakat, o nigeriano Wole Soynka e o indiano Salman Rushdie, entre outros

Por Agencia Estado
Atualização:

A revista se chama Autodafe e é editada pelo Paralmento Internacional dos Escritores, entidade que criou uma rede de "cidades-refúgio" capazes de oferecer asilo a escritores ameaçados. Assim, a entidade congrega nomes como o chinês Gao Er Tai, o cubano Rogelio Saunders Chile, o afegão Latif Pedram, o curdo Salim Bakrakat, o nigeriano Wole Soynka e o indiano Salman Rushdie, entre outros. O que une gente tão diferente? O fato de todos terem sofrido perseguição em seus países de origem. Tiveram de se exilar para continuar trabalhando. Ou simplesmente para sobreviver. Seus artigos estão na revista, ao lado dos de outros autores. Enfim, trata-se de uma publicação que reúne artistas da palavra no exílio. Uma internacional de escritores a favor da liberdade de expressão e da diversidade. A iniciativa é meritória, e o melhor de tudo é que alguns artigos são realmente muito bons. Por exemplo, o de Rushdie, condenado por uma fatwa do aiatolá Khomeini por seu livro Versículos Satânicos, considerado blasfemo. No primeiro parágrafo do texto, Rushdie define o que deveria ser essa internacional: "Os escritores são cidadãos de pátrias muito distintas: o país definido, com fronteiras claramente delimitadas, da realidade observável e da vida cotidiana; o reino sem limites da imaginação; a terra meio perdida da memória; as federações do coração, que podem ser tanto gélidas como ardentes; os estados unidos da mente (tranqüilos e agitados, amplos e estreitos, ordenados e caóticos); as nações do desejo, que podem ser tanto celestiais como infernais, e a que talvez seja a mais importante das terras que habitamos: a livre república da língua". Uma petição de princípios e tanto. O prêmio Nobel Wole Soyinka foi preso várias vezes em seu país, a Nigéria. Condenado à morte, foi forçado a exilar-se em 1995. Seu texto, escrito em Atlanta, nos Estados Unidos, em junho deste ano, corta como navalha. Chama-se Meu Encontro com Mumia e relata uma entrevista com o condenado à morte Mumia Abul Jamal, ex-Pantera Negra, acusado de matar um policial em 1981. Não há no artigo nenhuma discussão a respeito da culpabilidade ou não do condenado. Soyinka apenas registra, linha após linha, a crueldade de um sistema carcerário higiênico porém implacável. Jamal é submetido ao isolamento e a pequenas torturas psicológicas, como fazer com que suas raras visitas o esperem indefinidamente. Soyinka traz esse depoimento dramático em palavras duras, e Rogelio Saunders Chile descreve, com não menor veemência, a sua condição de escritor em Cuba. É implacável com seu país. Para ele, a resistência cubana não passa de "Absurda e funesta estratégia de submergir totalmente na idade média, lançando o país em uma viciosa circulação à margem da história, como um sórdido night clube... com as gastas palavras de ordem revolucionárias em atraentes letreiros de néon, com velhos automóveis norte-americanos e prostitutas de 15 anos de idade". Excesso de adjetivos, mas não por acaso é considerado "intelectual problemático" em Cuba. Contatos com o Parlamento dos Escritores: 331-4811-6135, fax: 331-4811-6134, ou e-mail: ipwpie@compuserve.com.

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