04 de junho de 2015 | 02h00
Não seria necessário outro argumento contra a tese de que a transa impede ou substitui a criação do que o exemplo de George Simenon, certamente o autor mais prolixo do seu tempo – só as histórias do inspetor Maigret são dezenas, e elas formam uma pequena parte da sua obra – e que declarou ter dormido em toda a sua vida com dez mil mulheres. Dez mil! A revelação de Simenon deflagrou varias especulações, começando pela matemática. Dez mil transas contabilizadas dariam quantas por semana, ou por dia? Elas incluiriam mulheres repetidas? Simenon foi casado duas ou três vezes: sexo com as próprias esposas entraria no cálculo? E com prostitutas? O que espanta no caso de Simenon e ele ter tido tempo para produzir tantos livros entre as transas, ou transar tanto entre a produção dos livros. E um dado importante: era um excelente escritor.
Claro que Simenon era um fenômeno que não pode servir de modelo para escritores principiantes.
– E o seu plano de ser como o Simenon?
– Vai bem. Já transei com 300 mulheres.
– Algum livro?
– Até agora, nenhum. Mas eu chego lá.
“Não se pode pensar ou escrever senão sentado.” Comentando esta frase de Gustave Flaubert, Friedrich Nietzsche disse: “Nenhuma ideia que não nos venha caminhando tem valor”. Simenon talvez tenha tentado desmentir os dois e experimentado pensar deitado, e acompanhado. A transa, para ele, seria uma espécie de busca de ideias, um alerta aos fluidos de que o grande ato viria depois do sexo.
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