PUBLICIDADE

FIT trouxe inspiradas criações internacionais e fraca safra de brasileiros

Festival de teatro encerrou neste domingo em São José do Rio Preto com público total de 90 mil pessoas

Por Maria Eugênia de Menezes - O Estado de S. Paulo
Atualização:

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - O Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, promovido pelo Sesc e pela prefeitural local, encerrou neste domingo, 15, sua 12ª edição. Além da boa acolhida, com público estimado em 90 mil pessoas, o evento deste ano caracteriza-se por uma contundente internacionalização. Com nítida preponderância dos espetáculos estrangeiros.

PUBLICIDADE

Eles não só dobraram de número - passaram de cinco, em 2011, para dez, em 2012 -, como também exibiram uma ousadia que não pôde ser encontrada nos títulos nacionais.

Sem surpresas, a seleção brasileira reuniu espetáculos que já foram vistos no Rio de Janeiro ou em São Paulo. A ausência de estreias não é em si um demérito. Não fossem as escolhas tão pouco significativas. Incapazes de dar notícia do bom teatro feito no País, não cumpriram a função de "vitrine", tão comumente associada aos festivais de artes cênicas. Por outro lado, também não ousaram revelar novos e insuspeitos talentos. Trouxe nomes consagrados. Mas em criações não muito inspiradas. Ressalva justa seja feita para Cidade Fim - Cidade Coro - Cidade Reverso, oportuna peça da cia. Teatro de Narradores que se encaixava com perfeição ao tema proposto pela curadoria: a superposição entre o indivíduo e o coletivo na cena contemporânea. Holofotes voltados para a questão da performance.

Na ala internacional também não faltaram trabalhos que ecoassem a proposição curatorial. White Rabbit, Red Rabbit, do iraniano Nassim Soleimanpour, sobressai como bom exemplo. A peça dá conta das atuais restrições de liberdade no Irã, mas o faz sob um ponto de vista estritamente individual. Mistura o particular e o político. Com o autor implicando-se constantemente na obra. Estão aí, aliás, o interesse e a contundência do espetáculo. Há ainda a inventividade formal da encenação, que acrescenta mais um ponto à dramaturgia de Soleimanpour. Sem diretor, White Rabbit, Red Rabbit é interpretada por um ator diferente a cada apresentação. Intérprete este que não pode ter acesso ao texto antes de subir ao palco e é obrigado a descobri-lo junto ao público. Descrita assim, a ideia pode soar como mera provocação ou invencionice. Não é.

Feliz também foi a passagem do Workcenter de Jerzy Grotowski e Thomas Richards pelo festival. O grupo italiano, da cidade de Pontedera, teve três trabalhos incluídos na programação: Eletric Party Songs, The Living Room e I Am America. Oportunidade de os espectadores observarem desdobramentos e minúcias de uma extensa pesquisa.

A origem está no ideário de Grotowski - diretor polonês que é um marco para o teatro universal. De posse desse arcabouço, o Workcenter conduziu o elemento performático a um novo lugar. Enreda, por meio de cantos e ações, seus espectadores em uma dimensão ritual. Mágica. Mas ainda assim atenta ao mundo e às suas contradições.

Nesta edição, mudou o time de curadores, que é distinto daquele que atuou no ano passado. Mas não alterou-se a vontade de flagrar a maneira como as artes cênicas apreendem a realidade. É marcante a conotação política de La Pocha Remix, espetáculo norte-americano que integrou a grade. Não se pôde encontrar ali, porém, traços didáticos ou uma narrativa contínua que entregue à plateia uma moral ao fim. Persistem as perguntas e um incômodo revelador. Uma sensação que faz o FIT, entre erros e acertos, manter sua posição de destaque entre os festivais do País.

Publicidade

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.