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Filme flui, mas conflitos ficam em segundo plano

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Por Luiz Zanin Oricchio
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Crítica: Há sacadas inteligentes na dramaturgia de Chico Xavier. Sua vida é contada tendo por eixo um programa da antiga TV Tupi, o Pinga-Fogo, do qual o médium participou. A partir daí, pode-se voltar às diversas etapas da biografia, da infância sofrida ao encontro da vocação e a adesão dos fiéis quando se muda para Uberaba.Como o cinema tradicional mexe-se melhor com dramas individuais do que com coletivos, introduz-se o conflito de um casal (Tony Ramos, diretor de TV do Pinga-Fogo e sua mulher, Cristiane Torloni), que perdeu um filho em condições trágicas. Ele não acredita em espiritismo e tende a considerar Chico um charlatão; ela não abre mão da esperança de estabelecer um contato com o filho morto. Tudo isso pode sustentar o interesse do grande público.É um filme benfeito, no sentido da construção e do elenco. Daniel Filho, pouco inovador, sai-se bem na fluência narrativa. Afinal, é homem de televisão e entende do riscado. Ao mesmo tempo, vacina-se contra eventuais problemas. Por exemplo, Chico Xavier é figura muito popular, mas não tolerada pela Igreja, que não abriu seus templos às filmagens. Esse conflito é atenuado no filme - ele aparece um pouquinho na figura do padre vivido por Cássio Gabus Mendes. Da mesma forma, arestas possíveis da personalidade de Chico são aplainadas. Mesmo santos têm suas contradições (basta conhecer a vida de Agostinho ou Jerônimo, esta filmada por Julio Bressane), mas a biografia de Chico Xavier, descrita pelo filme, parece retilínea. Seguramente, o personagem real deve ser muito mais fascinante que aquele visto na tela.

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