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Filme de John Waters vai parar na Broadway

O cineasta trash faz as vezes de consultor da peça baseada em Hairspray, seu trabalho mais popular

Por Agencia Estado
Atualização:

O filme mais popular do diretor cult por excelência do cinema independente americano virou um musical da Broadway. Começam nesta quinta-feira os ensaios abertos de Hairspray, baseado na produção de John Waters de 1988. O filme é uma mistura de camp com comédia que foi estrelada pela drag queen Divine e pela atriz e apresentadora de TV Ricki Lake. O espetáculo do teatro tem como destaque o ator Harvey Fierstein no papel que foi de Divine. Em Hairspray, a história se passa em 1962, em Baltimore, Maryland, como todos os filmes do diretor. Tracy Turnblad, uma garota gorda com um penteado enorme e um senso de estilo maior ainda, adora dançar. Sua técnica e seu carisma fazem com que ela vire uma celebridade teen local depois que ganha a chance de dançar no auditório do programa de TV The Corny Collins Show. Seu desafio é vencer a "princesa" do programa e conquistar o coração do namorado bonitão dela, Link Larkin. Marissa Jaret Winokur (que tem no currículo aparições em Beleza Americana e Todo Mundo em Pânico) faz o papel de Tracy. Fierstein (autor da peça Essa Estranha Atração - Torch Song Trilogy, que ele também estrelou em sua versão para o cinema) interpreta sua mãe careta, Edna. Link é feito por Matthew Morrison. No elenco também estão Kerry Butler, Maura Bell Bundy, Mary Bond Davis, Dick Latessa e Clarke Thorell, entre outros. Fim de carreira A trama é baseada no programa de auditório local The Buddy Deane Show, que era tão importante em Baltimore quanto American Bandstand no resto dos Estados Unidos. Waters era fã incondicional do show e do Comitê (conhecido como Conselho no filme), como eram chamados os teens que freqüentavam o auditório no final dos anos 50 e 60. Ele assistia ao show todos os dias e chegou a dançar ao vivo duas vezes. A semente do filme foi um artigo que o diretor escreveu sobre o programa para uma revista de Baltimore. O filme, que custou US$ 3 milhões para ser produzido (o musical tem um orçamento de US$ 10,5 milhões), foi o único dele a ter censura PG-13, para maiores de 13 anos. "Achei que seria o fim da minha carreira." Waters, que serviu de consultor criativo do musical, deu apoio total ao espetáculo e já foi visto aos prantos na apresentação da canção romântica sobre o amor de Edna e Wilbur Turnblad. O espetáculo esteve em cartaz por um mês em Seattle, Washington, antes de ser montado na Broadway. Hairspray também tem um quê de nostalgia: foi o último filme dele estrelado por sua diva, Divine, que morreu de repente, aos 42 anos, poucos meses depois da estréia do trabalho que foi o maior sucesso de sua carreira. O cineasta é o "agent provocateur" do cinema americano. Sua sensibilidade radical é a responsável por clássicos como Pink Flamingos (1972), Polyester (1981), Cry-Baby (1990) e Mamãe É de Morte (1994). Seus filmes não têm lugar para personagens "normais". Todos estão às margens da sociedade careta: a "pessoa mais porca do mundo" em Pink Flamingos, delinqüentes juvenis em Cry-Baby, uma mãe serial killer em Mamãe É de Morte e um bando de "terroristas cinematográficos" em sua produção mais recente, Cecil Bem Demente, de 2000. Em seu mundo, os mais fracos sempre triunfam. Por sinal, ele acha que o novo musical vai ser hit certo justamente porque seu tema é "uma garota gorda que vence no final". "O espetáculo vai funcionar na Broadway porque todos os turistas são gordos, não é mesmo? Tenho sempre muita sorte com gordos, eles são sempre os outsiders nas minhas histórias, outsiders que vencem no final." Apelo popular Hairspray vai provar que o papa do trash passou a ter apelo popular. O diretor não mudou, mas o mundo sim, segundo ele, que chama a si mesmo de "velho sujo". Uma de suas novas empreitadas é virar um personagem de desenho animado em um novo programa da MTV americana, John Waters´ Patent Leather Dream House, em "fase de desenvolvimento", segundo ele. O show é sobre sua "vida fictícia". Esta não é sua primeira aventura em um desenho animado. O début foi em 1997, como a voz de um manchand de antigüidades gay no premiado episódio Homer´s Phobia, de Os Simpsons. "Mais gente viu aquele episódio do que qualquer um dos meus filmes, tenho certeza." Waters também está em fase inicial de produção de seu próximo filme, o 15º em mais de 30 anos de carreira. A Dirty Shame é uma comédia sobre viciados em sexo. Ele escreve atualmente o roteiro e pretende rodar o filme no ano que vem. Para quem quer descobrir mais sobre o diretor, uma boa dica é uma nova biografia dele, Filthy, de Robert L. Pela. Para o autor, Waters é o "profeta americano de uma religião de escândalo, sordidez e culto a celebridades". A música de Hairspray é de Marc Shaiman, que tem em seu currículo a trilha sonora do longa-metragem em desenho animado South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes, pela qual recebeu uma de seus cinco indicações ao Oscar. Seu trabalho no novo espetáculo foi feito em parceria com Scott Wittman. As canções do musical mostram Tracy no set do programa de TV, em casa, nas ruas de Baltimore e em uma loja de discos de rhythm and blues, por exemplo. O roteiro é de Mark O´Donnell e Thomas Meehan. A direção é de Jack O´Brien, que recebeu indicações ao Tony de melhor diretor no ano passado pelo musical The Full Monty e pela peça The Invention of Love, de Tom Stoppard. A coreografia é de Jerry Mitchell, que tem em seu currículo no teatro as montagens de The Full Monty, a recente versão de The Rocky Horror Show e o musical off-Broadway Hedwig and the Angry Inch, de John Cameron Mitchell. Hairspray entra em cartaz no Neil Simon Theatre (250 West 52nd Street, em Midtown) em 15 de agosto. Os ingressos custam entre US$ 60 e US$ 95 e podem ser comprados pelo Ticketmaster, no web site http://www.ticketmaster.com, ou pelo telefone 1-212-307-4100. Mais informações podem ser conseguidas no web site http://www.hairspraythemusical.com. O CD com a trilha sonora chega às lojas dos Estados Unidos em 13 de agosto.

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