Filho de Kazuo Ohno ensina a arte do butô em SP

PUBLICIDADE

Por AE
Atualização:

Esse homem que, não sei bem por que, eu esperava sisudo e grave me sorriu por mais de uma hora. Durante a conversa, Yoshito Ohno falou de essência, das coisas que são imutáveis em cada um de nós, de vida e de morte. Mas dizia isso como se contasse as coisas mais ternas, mais doces.O filho de Kazuo Ohno está todo vestido de negro. É forte e altivo, como costumam ser os bailarinos. Só que sem a ansiedade, a vertigem que os artistas, quase invariavelmente, exibem na voz e no corpo.Está no Brasil para apresentar Wind of Time, espetáculo que resume um pouco sua incumbência desde a morte do pai, em 2010: levar o butô adiante, fazê-lo sobreviver. Antes da criação ser exibida amanhã no Sesc Consolação, fará um workshop com artistas locais. E pretende subir ao palco ao lado desses intérpretes. "Passei muitos anos trabalhando com Kazuo, sem tempo de assistir a outras coisas. Só recentemente passei a acompanhar o trabalho dos mais jovens e percebi que algo se perdeu. O butô surgiu como uma arte multidisciplinar, que bebia em outras linguagens. É meu dever transmitir essas ideias para as próximas gerações."Sem dúvida, o sobrenome credencia Yoshito a se atribuir essa "missão". Sua história com o butô, porém, ultrapassa os laços de família. Ele não foi apenas testemunha do nascimento dessa nova maneira de dançar. Mas também protagonista. Aos 21 anos, participou daquele que é considerado o primeiro espetáculo do gênero na história: Kinjiki (que pode ser traduzido como Cores Esquecidas).A obra estreou em 1959. Era dirigida por Tatsumi Hijikata, nome referencial da dança no Japão, e causou espanto naqueles que a viram. Tocava em questões interditas, como a pedofilia e a homossexualidade. Trazia Yoshito, no escuro, com uma galinha viva presa entre suas pernas. "Na época, não entendia ao certo do que se tratava. Me lembro de ter perguntado a Hijikata do que, afinal, a peça falava. Levou um tempo até que aquilo fizesse sentido para mim."YOSHITO OHNO - Sesc Consolação. Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, 3234-3000. 5ª e 6ª, 20 h. R$ 2,50/ R$ 10.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.