FID chega aprimorado à sua quinta edição

Rebatizado Fórum Internacional de Dança, evento chega dividido em três módulos e com duração maior. Começa nesta quinta com o tema "corpo não é mercadoria"

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Por Agencia Estado
Atualização:

De festival a fórum de debates, idéias e discussão. O FID - agora Fórum Internacional de Dança - convida Belo Horizonte a participar de sua programação, que nesta quinta edição terá duração maior: de 2001 até 2002 e conta com os seguintes segmentos: Seminário, Território Minas Telemig Celular e Programação Internacional. A primeira mudança veio da alteração do F de festival para fórum. "Foi apenas uma adequação do nome, o formato é o mesmo. A proposta não é fazer uma vitrine, sim um ambiente de discussão sobre a dança," explica a produtora Carla Lobo. "Temos uma resistência ao sentido espetacular da dança, nós assumimos um compromisso com a qualidade daquilo que apresentamos." O FID, desde a sua primeira edição em 1996, apresentou o perfil de fomentar a dança contemporânea em diferentes linhas, como em espetáculos, oficinas, palestras e mostras de videodança. Em 1998 foi criado o Território Minas com o propósito de incentivar a produção de artistas mineiros. Em 2000, o Café FID proporcionou maior interação entre público, acadêmicos e pesquisadores. Nesta edição, as organizadoras, Carla Lobo e Adriana Banana, aprimoraram o projeto. Comprometidas com o caráter educador, formador de platéia e com a proposta de proporcionar e aprofundar pesquisas, a edição 2001/2002 abre com o Seminário que abordará o tema "o corpo não é mercadoria". "Esse evento concentra todas as atividades em um só momento. Há apresentação do espetáculo do Jonathan Burrows e de Jan Ritsema, grupos de debates entre teóricos e o público", observa Carla. Agenda - O Seminário foi concebido como um exercício coletivo de reflexão sobre o tema proposto. Os participantes inscritos farão uma análise da coreografia, debaterão em um grupo de estudos que será orientado por um pesquisador, que levará os temas à plenária. "Não adianta apenas trazermos uma companhia, apresentarmos uma coreografia ao público. É importante que o público tenha informações para entender aquilo a que assistiu e possa ver mais obras de um grupo, para que compreenda a trajetória de cada um." A partir das 18h30, quem estiver no Grande Estúdio de Dança do Palácio das Artes assistirá à performance Weak Dance Strong Questions, de Burrows e Ritsema. Esse é o primeiro trabalho do coreógrafo e diretor de teatro do P.A.R.T.S, grupo belga sob o comando de Anne Teresa De Keersmaeker. Burrows iniciou sua carreira no Royal Ballet, em 1986 passou a trabalhar com Rosemary Butcher, dois anos depois criou seu grupo e alcançou prestígio internacional. Burrows, Ritsema, a professora e coordenadora do Mestrado do Programa de Comunicação e Semiótica da PUC, Helena Katz, e o professor de Teoria da Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Wilson Gomes abrem a primeira rodada de debates. Sexta-feira é a vez da coreógrafa e diretora artística do Panorama Rio-Arte, Lia Rodrigues, trocar idéias com a professora da Escola de Dança da UFBA, Dulce Aquino, e com o professor da PUC, Norval Baitello. Sábado, o diretor e coreógrafo do Cena11, Alejandro Ahmed, a pesquisadora Fabiana Dultra Britto e o videoartista Eduardo de Jesus conversam. Para encerrar a primeira etapa do Fórum, foram convidadas a bailarina Vera Sala, a professora da PUC, Christine Greiner, e a professora do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Ouro Preto, Imaculada Kangussu. "Esses trios diários contam com profissionais de formação distinta, conseqüentemente com olhares diferenciados sobre o tema que será apresentado. Não mencionamos nenhuma palavra aos pesquisadores convidados, eles possuem apenas informações presentes no site (www.fid.com.br)", conta. "Eles serão pegos de surpresa, o que aquecerá ainda mais as reuniões." A produtora afirma que ela também ficou surpresa com o número de inscrições e o perfil dos participantes. "O público compareceu em massa, em poucos dias tínhamos preenchido todas as vagas. O que mais nos chamou a atenção foi o perfil variado dos inscritos - temos artistas, psicólogos, professores, administradores e até mesmo um frei estudante de filosofia." Novos rumos - Nessa primeira etapa, o alvo será a platéia. Em um segundo momento, o FID estará voltado para a formação do artista. "Queremos que as pessoas enviem projetos de pesquisa, não estamos preocupadas com o resultado, com espetáculos prontos", comenta. Nesta edição será inaugurada um novo formato do Território Minas, que passa a chamar-se Território Minas Telemig Celular. "Daremos suporte financeiro para companhias mineiras realizarem suas pesquisas, não para a montagem dos espetáculos", observa. A forma atual obrigou a uma adaptação curatorial. "Até então a Adriana escolhia os grupos avaliando as coreografias, assistindo aos vídeos e aos ensaios. Agora, com a instituição dessa bolsa para a pesquisa, publicaremos um edital com as informações precisas e os quesitos que as companhias devem possuir. O próximo passo será a instalação de uma comissão de quatro especialistas de diferentes áreas e diferentes Estados, ligados à dança", orienta. De acordo com as organizadoras, as companhias terão acesso à sala de ensaio, estúdio e fotógrafos. Os artistas deverão apresentar relatórios com o desenvolvimento do trabalho e terão o acompanhamento de um orientador. "Como em uma bolsa de pesquisa, queremos que os bailarinos e coreógrafos tenham instrumentos para aprimorar a sua formação." O Território também prevê um retorno para a sociedade com mostras bimestrais de working progress aberto ao público e ao debate. Em outubro de 2002 serão apresentados os resultados. "O edital ficará pronto em fevereiro do ano que vem, faremos uma série de ajustes às idéias apresentadas, mas a essência é essa", lembra Carla. Outro aspecto que ainda está sendo elaborado é a definição dos nomes nacionais e internacionais que estarão presentes no Fórum. Apoio - O FID chega à sua quinta edição com o apoio da Telemig Celular que investiu R$ 375 mil no evento. "Sem nossos patrocinadores e apoiadores seria impossível realizar um evento desse porte." O gerente de Marketing Cultural da empresa de telefonia, Marcos Barreto, explica que o perfil do Fórum está distante da indústria do entretenimento e o apoio a ele se deve pela afinidade com a proposta inovadora, pioneira, com esse caráter de ruptura e comprometimento com ações artísticas e culturais. As conseqüências das cinco edições são visíveis. O Território, por exemplo, projetou companhias no cenário nacional. "Algumas companhias que saíram do FID estão circulando pelo País como no Panorama, na Mostra do Sesc e no projeto Rumos do Itaú Cultural. Além disso, estamos preparando coreógrafos para o mercado."

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