Festival Mix Brasil de Cinema alcança maioridade

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Por Igor Giannasi
Atualização:

O Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade Sexual faz uma convocação a seu público: "Você cresceu, aliste-se." Mais que uma brincadeira com os 18 anos da mostra - e, claro, da possibilidade de explorar o fetiche militar -, o mote da edição deste ano tem a ver com a vontade dos organizadores de convidar as pessoas a se alistar, a participar da execução do festival."Queremos trazer novos parceiros, gente com ideias novas, sangue novo", diz André Fischer, um dos diretores do evento. E isso quer dizer também ampliar as trincheiras do Mix Brasil para além do cinema nas próximas edições. Com 34 longa-metragens e 71 curtas, a mostra começa para o público na sexta-feira (dia 12) e vai até o dia 18, apresentando um painel da produção cinematográfica que tem a sexualidade como tema, especialmente com relação à comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), de 28 países, com destaque para filmes realizados na América do Sul.Após um boom de longa-metragens nacionais em 2009 - foram exibidos oito -, a produção brasileira nesta categoria passa por uma "ressaca" nesta edição, segundo Fischer. Assim, a organização do festival, que conta também com a direção de João Federici e curadoria de Suzy Capó, optou por fazer a Mostra Competitiva Brasil com apenas curta-metragens. Curiosamente, grande parte dos filmes que concorrem aos troféus Coelho de Ouro e Coelho de Prata tem como tema a descoberta da sexualidade na adolescência. Exemplos disso são os filmes "Eu Não Quero Voltar Sozinho", de Daniel Ribeiro, que mostra a mudança da rotina de um adolescente cego com a chegada de um novo aluno ao colégio, e "Mais ou Menos", de Alexander Antunes Siqueira, que retrata um caso de bullying em uma escola de Florianópolis.Por outro lado, a mostra deste ano destaca filmes de longa-metragem com temática LGBT feitos por nossos vizinhos sul-americanos, produção que, não por acaso, reflete as recentes conquistas da comunidade homossexual nesses países, como, por exemplo, a aprovação do casamento igualitário na Argentina, em julho passado. "No Brasil, a gente sempre dá um passo à frente e outro passo atrás. Conseguimos muita visibilidade, mas a gente avançou menos do que em outros países em termos práticos de direitos", comenta Fischer, lembrando, inclusive que na campanha presidencial o debate de temas como o casamento gay ganhou tons conservadores e a discussão não avançou como poderia.Na abertura do festival, nesta quinta-feira, será exibido, apenas para convidados, o filme peruano "Contracorrente" - que deve entrar em cartaz no Brasil em 2011 -, com a presença do diretor Javier Fuentes-León. Outro destaque entre os "hermanos" é "O Quarto de Leo", do Uruguai, estreia do diretor Enrique Buchichio que aborda o conflito de "sair do armário" do personagem. O ator que interpreta Leo, Martín Rodriguez, estará presente nas sessões do filme. Ainda entre os sul-americanos, há o argentino "Plano B", do também estreante em longa-metragem Marco Berger, em que um cara resolve se vingar da ex-namorada fingindo ser gay e tentando conquistar o novo parceiro dela.Para maioresUm recorte de filmes gays que participaram do Porn Film Festival de Berlim, festival de filmes de arte que usa o sexo explícito como linguagem, também faz parte da mostra. "Com 18 anos, a gente se permitiu ser mais sexual", diz Fischer. "L.A. Zumbi", do diretor Bruce La Bruce, figura sempre presente nas seleções do Mix Brasil, é o destaque dessa programação. O filme terá uma sessão especial na sexta-feira (dia 12), às 21 horas, no Cine Dom José, cinema do centro de São Paulo que tradicionalmente exibe filmes pornográficos, com o ator François Sagat, protagonista da obra, como convidado. Estrela do cinema pornô gay, Sagat também participa de outro filme selecionado pelo festival, o francês "Homem no Banho", do diretor Christophe Honoré, parte da programação do Panorama Internacional.Distribuída em oito espaços de exibição, a programação conta também com a sessão Sexy Boys, com curtas de apelo erótico para os rapazes, e o programa Mapa das Minas, com filmes voltados para as meninas. Para elas, outra dica é a pré-estreia, na quarta-feira (dia 17), do longa de arte erótico "Quarto em Roma", do espanhol Júlio Medem, mesmo diretor de "Os Amantes do Círculo Polar" e "Lucia e o Sexo".Uma novidade no Mix Brasil deste ano é o painel "Como Filmar uma Cena de Sexo", que será realizado no Museu da Imagem e do Som (MIS), no sábado (dia 13), às 17 horas. Os diretores brasileiros Tata Amaral e Carlos Alberto Ricelli, Jürgen Bruning e Claus, ambos da Alemanha, e Florence Frazilci (França), comentam e exibem cenas de seus trabalhos.Continua o tradicional "Show do Gongo", na sua 11.ª edição e no comandado da atriz Marisa Orth, em que produções caseiras passam pelo crivo da plateia na terça-feira (dia 16), às 21 horas, no Teatro Gazeta (Avenida Paulista, 900). As inscrições dos filmes devem ser feitas no balcão de credenciamento do festival no Espaço Unibanco de Cinema (Rua Augusta, 1.475), até as 17 horas do dia do evento. A entrega dos prêmios do festival será no Cinesesc, na quinta-feira (dia 18), somente para convidados, quando será exibido o filme alemão "Sasha", de Dennis Todorovic. Mais informações sobre a programação no site www.mixbrasil.org.br.GuerrilhaAinda que tenha contribuído na criação de um mercado de filmes ligados à temática LGBT e de uma geração de diretores que contemplam a diversidade sexual em seus trabalhos, o Mix Brasil ainda encontra resistência de patrocinadores, mesmo após 18 edições. Dificuldades estas que por pouco não atingiram a mostra deste ano, mas a situação foi revertida com a ajuda de colaboradores e apoiadores. "Tem uma coisa de guerrilha, de militância", comenta Fischer. Por ora, a batalha continua, à espera de mais recrutas.

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