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Festival Judaico faz 14 anos cheio de atrações

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

E após a Mostra Audiovisual Israelense chega o Festival de Cinema Judaico. No ano passado, o evento, já integrado ao calendário cultural de São Paulo, completou 13 anos e comemorou seu Bar Mitzvah. Agora, aos 14 anos, o festival já alcançou sua maioridade. Não é só marketing. O Festival de Cinema Judaico tem mostrado sua força como foro para a discussão de questões estéticas, e não apenas elas, relativas ao judaísmo. A 14ª edição tem temas políticos, comportamentais, mas privilegia a fé. A curadora Daniela Wassernstein organizou um programa especial sobre religião e ciência. Como anda a fé num mundo que avança científica e tecnologicamente?O filme emblemático desta seção do 14º Festival de Cinema Judaico é Em Busca da Memória, de Petra Seeger, que mistura autobiografia e história para falar sobre um dos mais importantes neurocientistas do século 20. Eric Kandel, Prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina, é responsável por descobertas científicas que ampliaram a compreensão do papel do cérebro no registro e preservação da memória humana. O documentário reconstitui experiências traumáticas da infância de Eric Kandel, em Viena, durante a ocupação nazista, e também seus anos de formação como jovem imigrante em Nova York.De novo, o Holocausto, o horror nazista. São temas que volta e meia irrompem na programação do Festival de Cinema Judaico, mas é difícil não se referir a eles. A cada ano, os artistas buscam novas formas de renovar essa questão que termina por englobar tudo - identidade, memória, vida, morte. O festival abre hoje para convidados com Marca da Vida, de Jessica Sanders, justamente sobre as reações de jovens de todo o mundo que conhecem os campos de concentração pela primeira vez. Outros filmes que integram essa seção - Salto de Fé, de Antony Benjamin e Stephen Friedkin, filmado durante três anos e que acompanha o processo de conversão de personagens bem diversos - um jovem de Trinidad, uma família que se mudou para o Colorado, um casal de idosos, uma mãe solteira que faz carreira no Exército dos EUA; Jubanos - Os Judeus de Cuba, de Milos Silber, sobre os judeus que permaneceram na ilha de Fidel Castro, após a vitória da revolução; e Oh, Meu Deus.O que é? Neste último, Peter Rodger formulou a religiosos, celebridades e pessoas comuns a mesma pergunta - o que é Deus para você? Vale a pena viajar nas respostas de cristãos, judeus, muçulmanos, budistas etc. O que eles dizem põe em xeque o sentimento do próprio espectador, que também se sente solicitado a tomar partido e a responder, nem que seja no próprio inconsciente. Outras seções incluem um especial sobre a República Checa e a exibição dos curtas de Erez Tadmor, diretor e roteirista de 36 anos, formado pela Câmera Obscura Escola de Cinema de Tel Aviv. O primeiro deles, Moosh, ganhou cerca de 40 prêmios em festivais de todo o mundo. É sobre policial em crise que assume o desafio de criar bebê abandonado. O estranhamento e a humanidade não são menores em OFF Side, sobre quatro soldados que tentam se comunicar em diferentes lados de uma cerca que representa as divisões e polarizações do mundo atual.Há uma importante seção de documentários e um deles ilustra, melhor do que qualquer outro, os impasses da contemporaneidade. Eu e a Questão Judaica, de Ulrik Gutkin, é sobre dinamarquês não religioso de ascendência judaica, casado com uma cristã que também não é praticante religiosa. Os dois vivem muito bem dessa maneira, mas agora têm um problema. Não sabem como resolver o problema da circuncisão do filho, Félix. Menina dos olhos das programação, a mostra de ficção é a que mais atrai o público. Vencedor de vários prêmios - melhor filme nos festivais de Biarritz e Mar del Plata -, Cinco Dias sem Nora, da mexicana Chenillo, é sobre mulher que se suicida e o ex-marido, de quem estava separada há muitos anos, tem de se ocupar dos trâmites. Com ele, o espectador descobre o humor macabro da falecida, que preparou a própria morte, incluindo o cardápio, com instruções precisas sobre os alimentos a serem oferecidos no seu Pessach.Wonderful World, de Joshua Goldin, é sobre cantor judeu que se acha fracassado. Interpretado por Mathew Broderick, ele tem uma visão negativa da vida, só atenuada pela relação com o amigo senegalês. Quando ele adoece e não consegue tratamento, o protagonista vê suas piores previsões se realizarem. Por que então o mundo é maravilhoso, como quer o título? Se não é o mundo, é o cinema, como instrumento de interrogação e prazer estético.

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