08 de julho de 2013 | 09h41
Terceira criação do grupo Teatro Kimen, do Chile, Galvarino conta a trajetória de um homem anônimo. Ele é irmão da dramaturga, Marisol Ancamil. E tio da diretora da companhia, Paula Gonzaléz. Tudo o que se vê é o interior da casa da família do personagem. O cotidiano de pai, mãe e irmã que preparam o jantar enquanto esperam sua chegada. Uma história privada, mas que merece contornos coletivos. "É um testemunho individual, mas que tem muitas arestas e se cruza com muitos aspectos da história, o golpe de Estado no Chile, a queda da União Soviética, o fato de serem mapuches e, portanto, pobres", comenta a encenadora.
Descendente da etnia mapuche, Galvarino deixou seu país e partiu para a Rússia 30 anos antes. Foi em busca de trabalho e conseguiu estabelecer-se por lá. Tinha bom emprego. Casou-se. Manteve contato com os pais durante todos esses anos. De repente, desapareceu. A cena à qual assistimos se passa no início dos anos 90. Desde a queda do regime comunista, ele não dá notícias. Sua irmã decide escrever ao Ministério das Relações Exteriores pedindo ajuda para localizar seu paradeiro. São muitas as cartas sem resposta. E, diante delas, não é preciso nenhum discurso inflamado para evidenciar a impotência de quem pede e a soberba de quem se recusa a atendê-las.
"Trata-se de dar voz a quem não tem. Mas sem desprezar a visualidade ou fazer menos do que se leva à cena", observa Paula, que encerra com Galvarino uma trilogia de "teatro documental". Antes, ela dirigiu Ni Pu Tremem - Mis Antepassados (2008) e Território Descuajado - Testimonio de um Pais Mestizo (2010). Trabalhos nos quais já se valia de não-atores e de depoimentos verídicos para construção da dramaturgia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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