Festival de NY encena Nélson Rodrigues

Natália de Campos leva ao público americano o monólogo Valsa n.º 6, de 1951

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Por Agencia Estado
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Nos últimos anos, muitos estudiosos americanos têm se debruçado sobre peças de Nélson Rodrigues e confirmado a genialidade do autor. Fora dos círculos acadêmicos, no entanto, os personagens dele só são conhecidos nos EUA em vídeos de versões para o cinema como as de Toda Nudez Será Castigada e O Casamento, ambas dirigidas por Arnaldo Jabor. Hoje, a primeira montagem de uma peça de Nélson Rodrigues em Nova York poderá ser vista pelo menos por fãs de teatro experimental. O monólogo Valsa n.º 6 chega ao público trazido pela atriz e diretora brasileira Natália de Campos, integrando o American Living Room Series, um dos festivais de verão que ocorrem anualmente na cidade para mostrar o trabalho de novos artistas. Ex-aluna do CPT de Antunes Filho e primeira brasileira a participar do Laboratório de Diretores criado em 1995 pelo Lincoln Center, uma das maiores instituições culturais americanas, Natália, de 28 anos, encontrou no texto de Nélson uma fonte para desenvolver suas pesquisas sobre linguagem dramática. Em junho, apresentou a leitura de A Serpente, escrita por Nélson em 1973 e que ela mesma traduziu para o inglês e dirigiu num workshop do Immigrant´s Theater Project. Agora, adaptando a tradução feita por Joffre Rodrigues, filho do autor, Natália dirige e interpreta Valsa n.º 6. A peça tem apresentação única hoje à noite num teatro de 99 lugares do Here Arts Center, localizado no SoHo. Valsa n.º 6, escrita em 1951, é uma das chamadas peças míticas ou psicológicas de Nélson Rodrigues. Sônia, a protagonista, é uma garota de 15 anos que morreu assassinada e tenta lembrar-se do que lhe aconteceu. O sexo deformado por costumes sociais, morais e religiosos é o motivo do crime. "Nélson é universal porque os temas que trata, como moralismo, hipocrisia e repressão, podem ser compreendidos tanto por um chinês budista como por um americano protestante, cada um sob o prisma de sua cultura", diz Natália. Ela enfrentou o risco de produzir, dirigir e interpretar Valsa n.º 6 atraída principalmente pela relação entre texto e música. A valsa do título, de Chopin, impregna as memórias fragmentadas de Sônia. Apesar de aquela ser uma composição para piano, Natália contemporanizou sua Sônia dando-lhe parte das próprias lembranças musicais: a interpretação da personagem é permeada pela música de violino tocada ao vivo pelo brasileiro Felipe de Souza e o som criado, também no palco, pelo DJ americano Wiz. "A música me afeta, como artista e indivíduo, de várias formas e é a principal linguagem que fala com o performer e o espectador", observa Natália. Responsável pela concepção do espetáculo, ela conta com a colaboração do americano Ian Marshall na direção de movimentos e da artista plástica brasileira Marie Ange Bordas na cenografia. Depois do American Living Room Series, Natália pretende apresentar Valsa n.º 6 em outros festivais internacionais, incluindo o Brasil. Ainda este ano, em Nova York, vai dirigir a adaptação de Platonov, primeira peça escrita por Checkov, no festival promovido pela companhia de teatro experimental The Lite Company.

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