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Festival de Curitiba faz bom retorno às origens

Por AE
Atualização:

Ao anunciar sua programação para 2013, o Festival de Curitiba já prenunciava ser melhor que o de anos anteriores. Promessa que, de fato, se cumpriu, durante os 13 dias do evento. Nesta 22ª edição, não é que os tropeços tenham desaparecido. Eles lá estavam. Mas não se pode deixar de admitir que as escolhas da curadoria tenham soado mais acertadas desta vez.Primeiro, é preciso destacar a grande surpresa deste ano, e ela veio da ala internacional. Até então, a regra em Curitiba era encontrar esmaecidos títulos estrangeiros, alguns já vistos em outros festivais ao redor do País. A escolha da atração coreana "Pansori Brecht" mudou esse quadro. Acompanhada apenas por três músicos, a cantora e atriz JaRam Lee reinventou o sentido de "Mãe Coragem e Seus Filhos", clássico de Bertolt Brecht. Transportou o enredo para a China, interpretou sozinha todos os personagens da trama com um notável virtuosismo, seja no canto seja na representação. Um daqueles assombros, que só aparecem de tempos em tempos. Nitidamente filiada à tradição oriental do Pansori - gênero de canção narrativa muito popular na Coreia - sua obra não teme abraçar outras referências. JaRam Lee concebeu uma ópera, algo épica, algo pop. Tão modesta quanto refinada. Para além das boas montagens que selecionou, um dado a ser comentado neste festival é o retorno aos seus princípios. Desde sua criação, a mostra da capital paranaense chamou para si a responsabilidade de ser uma "vitrine" do que se faz no teatro nacional. O conceito, em si, não é imune a críticas. Um festival, afinal, pode ter outras tantas funções. O que vinha acontecendo, contudo, é que o recorte que Curitiba apresentava, ano a ano, não condizia nem fazia jus à diversidade da cena nacional. Ficavam alijados aspectos importantes do teatro atual: O fortalecimento dos grupos estáveis, especialmente em São Paulo. O surgimento de novos dramaturgos. As experimentações da linguagem cênica. Em 2013, a mostra curitibana mostrou-se mais próxima da ideia de vitrine que pretende abraçar. As pesquisas dos mais instigantes encenadores contemporâneos passaram por aqui: Marcio Abreu, Enrique Diaz, Roberto Alvim, Maria Thais, Leonardo Moreira e Grace Passô trouxeram seus trabalhos.Se quisermos lançar luz sobre alguns títulos, devemos admitir que, mais uma vez, brilhou a Companhia Brasileira de Teatro. Nas últimas edições, o grupo de Curitiba marcou presença no Fringe - programação paralela do Festival. Neste ano, foi alçado à grade principal e, novamente, apresentou o melhor espetáculo nacional da temporada. "Esta Criança", que marca a parceria do conjunto com a atriz Renata Sorrah, teve que agendar sessões extras para dar conta do público. A grande demanda não ocorreu por acaso. A agudeza do texto do francês Joël Pommerat encontrou intérpretes à altura. E uma encenação, a cargo de Marcio Abreu, capaz de potencializar os seus sentidos. Também merece ser nominalmente destacada "Recusa", criação de Maria Thais e da companhia Balagan. Para dar conta das ambiguidades do universo ameríndio, a encenadora apoiou-se nas interpretações preciosas de Antonio Salvador e Eduardo Okamoto.O Festival deu um passo adiante ao investir em coproduções. Deixou de apenas esperar pela oferta disponível e tratou de intervir no mercado, fomentando alguns projetos. Os resultados dessa iniciativa foram ora mais ora menos felizes. Um acerto neste setor foi, certamente, "Cine Monstro - Versão 1.0". Dirigida e interpretada por Enrique Diaz, a peça ainda está em processo de criação. Mesmo incompleto, porém, esse novo mergulho de Diaz na obra do canadense Daniel MacIvor já prenuncia suas potencialidades. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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