Festival de Curitiba 2002 consolida novo formato

Em sua décima edição, evento repete a fórmula testada no ano passado e incluiu em seu programa tanto estréias como montagens já aprovadas pelo público. Gabriel Villela abre o festival nesta quinta com Sonho de uma Noite de Verão

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Por Agencia Estado
Atualização:

Sob direção de Gabriel Villela, a Cia. de Dança de Minas abre nesta quinta-feira à noite no espaço Ópera de Arame a 10.ª edição do Festival de Teatro de Curitiba (confira a programação), com apresentação do espetáculo Sonhos de Uma Noite de Verão, de Shakespeare. Até o dia 31, cerca de 150 espetáculos serão apresentados na cidade - 17 deles na mostra oficial, a Mostra Contemporânea, e o restante na paralela, o Fringe. No seu aniversário de dez anos, o festival consolida uma importante mudança curatorial, experimentada pela primeira vez no ano passado: deixa de apostar unicamente em estréias. "Resolvemos optar por uma composição entre estréias e espetáculos já aprovados em suas cidades de origem, como Viver! e Meu Destino É Pecar, do Rio de Janeiro", diz Victor Aronis, um dos diretores do evento. Viver! é uma criação da Péssima Companhia, dirigida por Moacir Chaves, uma comédia dramática que costura textos de Machado de Assis. Apesar da ironia no nome de batismo da companhia, o diretor Moacir Chaves é responsável por espetáculos de grande qualidade como O Sermão da Quarta-Feira de Cinza e Bugiaria. Gilberto Gawronski é o responsável pela direção de Meu Destino É Pecar, peça inspirada num folhetim escrito por Nelson Rodrigues, sob o pseudônimo de Susana Flag. A montagem traz igualmente o "selo" de qualidade da Cia. dos Atores, que tem no currículo montagens como Melodrama e O Rei da Vela. Igualmente aprovadas por crítica e público, desta vez paulistanos, integram a mostra as montagens de Um Bonde Chamado Desejo, direção de Cibele Forjaz com Leona Cavalli no papel central, e Novas Diretrizes para Tempos de Paz, texto de Bosco Brasil. Esta última interpretada por Dan Stulbach e Paschoal da Conceição substituindo, em Curitiba, o ator Jairo Mattos, que lamentalvelmente saiu do espetáculo. Também de São Paulo, vai a Curitiba O Evangelho Segundo Jesus Cristo, adaptação do romance homônimo de José Saramargo, dirigida por José Possi Neto. Curiosamente, o escritor está em dose dupla no festival. Realizado para apenas 22 espectadores reunidos em volta de uma mesa, o espetáculo O Conto da Ilha Desconhecida, dirigido por Fátima Ortiz, leva à cena, na íntegra, um de seus contos. Essa nova "composição" da mostra tem o mérito de garantir qualidade à programação, uma vez que estréias podem sempre contrariar as mais positivas expectativas. Estréias - Expectativas positivas sobram em torno de algumas montagens que estréiam nesta 10.ª edição FTC. Entre elas, Mãe Coragem, de Bertolt Brecht, dirigida por Sérgio Ferrara. Além da força do texto, a montagem vem sendo preparada há meses por uma competente equipe de criação e tem como protagonista a atriz Maria Alice Vergueiro, liderando um elenco de 13 atores. Outra atriz promete emocionar em Curitiba - Ana Lúcia Torre, que contracena com Eduardo Moscovis em Norma, texto de Dora Castellar e Tonio Carvalho, dirigido pelo último. Nesse caso, uma peça de apenas dois atores e um forte embate existencial. "A personagem chama-se Norma não por acaso. Ela é uma pequeno-burguesa de valores rígidos que vê sua vida mudar ao entrar em contato com o jovem vivido por Moscovis", diz Dora Castellar. Ela acaba de mudar para um novo apartamento e recebe a visita do antigo inquilino. "A partir daí, começa uma avalanche. A história acontece em tempo real e conta esse encontro de pouco mais de uma hora." Ex-diretor do festival de teatro Porto Alegre em Cena, Luciano Alabarse é o diretor de outra esperada estréia do festival - Almoço na Casa do Sr. Ludwig, de Thomas Bernhard, cujo personagem central é o filósofo alemão Ludwig Wittgenstein, vivido por Luiz Paulo Vasconcellos. A peça mistura dados biográficos com ficção, embora respeite, no campo das idéias, o pensamento de Wittgenstein. Parece assustador? Alabarse faz um paralelo com Copenhagen, peça que estreou ano passado no festival de Curitiba e seguiu longa carreira com sucesso de público e crítica. "É uma peça de idéias. Texto e atores. Como Copenhagen, uma peça longa que propõe uma contundente e demolidora reflexão, sem concessões, mas não hermética." Também fora do eixo Rio-São Paulo, promete qualidade a Churchi Blues, com a pernambucana Cia. Teatro de Seraphim. O texto de João Silvério Trevisam foi escrito originalmente como roteiro de teatro e conta a história de um índio, desde seu nascimento na Amazônia até seu fim trágico no Mato Grosso. "É uma peça sobre a fluidez e plasticidade de nossa identidade. Do que vem a ser ou não brasileiro", diz o diretor Antonio Cadengue. Quanto ao Fringe, neste ano são pelo menos 30% mais peças do que no ano passado. E mais uma vez não há critérios de escolha. É torcer para que a mostra tenha também mais qualidade que nos anos anteriores.

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