Festa e silêncio em dois estilos de humor

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Por Agencia Estado
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Dois espetáculos envolvendo criadores de talento, dois estilos de humor diferentes. Sardanapalo, com o grupo "Parlapatões, Patifes e Paspalhões", vem lotando a sala principal do Teatro Brasileiro de Comédia desde o início da temporada, em maio. A Comédia dos Homens, com Elias Andreato, Nilton Bicudo e Pascoal da Conceição no elenco, promete valer uma ida até o Sesc Belenzinho onde estreou na semana passada. Com dramaturgia de Hugo Possolo, que também atua no espetáculo, Sardanapalo narra as aventuras do conquistador Alexandre, o Grande (Raul Barretto). Às vésperas de importante batalha, depara-se com a estátua de outro grande conquistador já morto, Sardanapalo. Sobre esse fato - jamais comprovado por historiadores -, Possolo constrói sua ficção. Ao pé da estátua, Alexandre lê a seguinte inscrição: bebi, comi, fiz amor, gozei a vida, o resto não vale isto - não exatamente nessa ordem e com esses termos - e a leitura faz com que ele repense sua vida. No programa, o grupo afirma que "a encenação busca estabelecer um novo paradigma quanto à capacidade de comunicação da obra de arte". Vale um parênteses para lembrar o renomado arquiteto inglês Ian Macintosh que, em palestra realizada ano passado no Brasil, mostrou como a arquitetura teatral contribuiu para "esfriar" a relação palco/platéia. Segundo ele, as arenas gregas contribuíam para fazer do teatro um encontro de pessoas. Antes de os recursos de iluminação sofisticaram-se, mesmo o palco italiano avançava para a platéia e havia público nas laterais. Com o advento dos focos de iluminação, o palco recuou, a platéia escureceu e o público foi retirado das laterais dos teatros. O espectador individualizou-se e a idéia do teatro como encontro coletivo ficou no passado. Em Sardanapalo, as luzes da platéia - não por acaso - ficam acesas em grande parte do espetáculo, que tem início no saguão do TBC, onde os atores vão buscar o público. "Entrem, empurrem, os lugares são numerados, mas a gente não respeita isso", anunciam enquanto tocam bumbos. "Gostamos do espectador deseducado, que torce para a trapezista cair." Ali mesmo, no hall, surge o "voluntário" que ocupará o centro do palco na primeira cena. Inaugura-se aí uma cumplicidade entre espectador e palco, que perdura em todo o espetáculo. Em dado momento, um ator estimula uma vaia, atitude banida de nossos teatros, mesmo quando há motivos para isso. Entre outras coisas, o grupo conquista a cumplicidade da platéia com a "revelação" dos bastidores de efeitos cênicos. Sob aparente anarquia, a companhia cria um espetáculo elaborado nos mínimos detalhes, lançando mão desde técnicas circenses - ótimo o efeito do malabarismo com facas na narração de uma batalha - até a linguagem do desenho animado - numa hilária queda de Alexandre no túmulo de Sardanapalo. Mas a melhor conquista da trupe está mesmo em conseguir trazer de volta ao teatro a importância do público no fenômeno teatral. Ver Sardanapalo é uma experiência coletiva e muito divertida. Numa linha aparentemente oposta de humor, em A Comédia dos Homens, o silêncio é um elemento fundamental também no palco. Mas um silêncio pleno de significados. O espetáculo tem direção de Márcia Abujamra e é integrado por duas peças curtas da escritora argentina Griselda Gambarro - Desnudamento e Dizer Sim. "As duas peças têm como tema o abuso de poder e, em ambas, os comandos são silenciosos." Em Desnudamento, Andreato interpreta uma atriz outrora famosa, que faz teste para um espetáculo. "Ela precisa conseguir o papel e, por isso, submete-se às ordens silenciosas de dois homens que vão tirando seus objetos de apoio e até suas roupas. É uma situação patética, cruel, com muito humor negro, reveladora da condição humana", comenta Andreato. Em Dizer Sim, Bicudo e Conceição interpretam um barbeiro e seu cliente, que trocam de papéis, inaugurando uma relação que beira o absurdo, também quase inteiramente silenciosa. Sardanapalo - Comédia. Texto e direção Hugo Possolo. Duração: 80 minutos. De quinta a sábado, às 21 horas; domingo, às 20 horas. R$ 15,00 (quinta e sexta); R$ 20,00 (domingo) e R$ 25,00 (sábado). TBC - Sala TBC. Rua Major Diogo, 315, tel. 3115-4622. Até 8/7 A Comédia dos Homens - De Griselda Gambaro. Direção Márcia Abujamra. Duração: 75 minutos. Sexta e sábado, às 21 horas; domingo, às 20 horas. R$ 5,00. Sesc Belenzinho. Avenida Álvaro Ramos, 991, tel. 6096-8143. Até 29/7

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