Fernando Torres deixa sua marca na história do teatro

Torres estreou em 1949 no Teatro Universitário, onde conheceria a atriz e futura mulher Fernanda Montenegro

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Por Beth Néspoli
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Os mais jovens talvez só tenham de Fernando Torres algumas poucas imagens na memória. Quem sabe dele no palco em Dias Felizes, de Beckett, contracenando com a mulher Fernanda Montenegro, ou como o ‘pai’ da personagem vivida por Leandra Leal, no filme A Ostra e o Vento, de Walter Lima Jr. Mas foi longa e muito importante a contribuição desse ator, produtor e diretor para o teatro brasileiro. Nascido em 1927, no Rio, Torres estreou em 1949 no Teatro Universitário, sob direção de Esther Leão, onde conheceria a atriz e futura mulher Fernanda Montenegro, também estreante.   Veja também:    Morre aos 80 anos o ator Fernando Torres     Começa aí uma parceria amorosa e artística que resultará em dezenas de espetáculos. Logo depois do casamento, em 1952, o casal muda para São Paulo e Torres é contratado pelo Teatro Maria Della Costa. Atua em O Canto da Cotovia, peça de inauguração do teatro, e torna-se assistente de direção de Gianni Ratto em A Moratória, de Jorge Andrade. Depois de passar pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), onde faz sua primeira direção, ele volta para o Rio.   Ratto vai para o Rio com o casal e juntos fundam, em 1959 no Rio, o Teatro dos Sete, cuja história tem início com uma grandiosa montagem de O Mambembe, de Artur de Azevedo, e passa ainda por O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, escrita para a companhia que só se desfaz em 1966. A partir daí, Torres sobressai com uma séria de direções bem-sucedidas, entre elas, das peças Volta ao Lar, de Harold Pinter e O Inimigo do Povo, de Ibsen.   Num Brasil de políticas públicas precárias ou inexistentes, Torres sempre foi produtor incansável, apaixonado, envolvido, que antes de mais nada conhecia o ofício e se colocava como mais um elemento fundamental na criação artística, e não como um mero mercador de produtos a serem consumidos. Não por acaso, em 1972 recebe um dos mais importantes prêmios da época, um Molière especial, como produtor.   Não foram poucos os percalços ao longo da carreira. Sofreu, por exemplo, um prejuízo imenso com a interdição da peça Calabar, de Chico Buarque, às vésperas da estréia, em 1973, mesmo ano que é premiado pela direção de O Amante de Madame Vidal. O constante trânsito entre direção, produção e interpretação talvez tenha contribuído para um aprimoramento desigual desses talentos - os obstáculos a serem enfrentados acabaram deixando o produtor em primeiro plano. Ainda assim, Torres recebe um prêmio APCA em 1976 por sua atuação em Seria Cômico se Não Fosse Sério, de Dürrenmatt, sob direção de Celso Nunes.   Na década de 80 começa a diminuir o ritmo de trabalho talvez já em função das crises de depressão que iriam se tornar um grave problema nos seus últimos anos de vida. No cinema, cuja vantagem sobre o teatro é a permanência, seu trabalho ficou eternizado em filmes como Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade, Tudo Bem, de Arnaldo Jabor e Veja Esta Canção, de Cacá Diegues, entre outros. Seus filhos, Fernanda e Cláudio, também artistas, escolheram seu sobrenome - Torres.

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