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Fernanda Montenegro abre amanhã conversas sobre a delicadeza

A dama do teatro brasileiro inaugura série de debates sobre a delicadeza em suas mais diversas expressões no Dia Internacional da Mulher

Por Agencia Estado
Atualização:

No Dia Internacional da Mulher, o Centro Cultural Banco do Brasil oferece ao público a oportunidade de conversar com Fernanda Montenegro. Encontros com Fernanda, que estréia amanhã no CCBB, pode propiciar ao espectador um bate-papo de verdade com a atriz. Antes de mais nada, o público não estará diante de uma das inúmeras personagens que a talentosa artista de 72 anos encarnou no teatro ao longo de 52 anos de carreira, em 58 espetáculos. Fernanda Montenegro entrará no palco falando os versos da canção Todo o Sentimento, de Chico Buarque - ´depois de te perder/te encontro com certeza/talvez no tempo da delicadeza´ - iniciando uma espécie de curto recital, onde falará textos de Clarice Lispector, Simone de Beauvoir, Hilda Hilst e Cornélio Pena. Todos terão como tema a delicadeza. Em seguida, ela passa a palavra para os espectadores, com os quais pretende trocar impressões sobre o tema. Há dois anos, Fernanda Montenegro vem realizando encontros com o público por várias cidades do Brasil. A reportagem acompanhou um desses Encontros com Fernanda, na cidade de Taubaté, onde a atriz respondeu a perguntas sobre os mais diversos temas para uma platéia de 500 espectadores que lotou o Teatro Metrópole. Na época, Fernanda acompanhava pelo Brasil uma exposição itinerante de fotos de sua carreira. A constatação da existência de um público ávido por essa troca de idéias levou a atriz a criar um pequeno roteiro temático para o que antes era apenas um bate-papo informal. "Entrei no site do CCBB na Internet - que pode ser acessado por todos - e vi que havia a possibilidade de entrar com um projeto para esse mês da mulher. Fiz a inscrição e o projeto foi aprovado. Acho importante ressaltar que passei pelos canais competentes. Que não é por ter uma sobrevida de mais de 50 anos no teatro que podemos passar por cima das pessoas." Foi com esse tipo de vigilância ética sobre o próprio comportamento que Fernanda imprimiu fortemente no imaginário popular brasileiro uma imagem de mulher íntegra, imagem que permeia ou intermedia, claramente, sua relação com o público nesses encontros. Para um projeto cujo objetivo era, desde o início, estrear no Dia Internacional da Mulher, o tema deveria girar em torno do universo feminino. "Ao contrário dos encontros anteriores, desta vez não sou eu ou minha carreira que estará em debate", diz. A idéia é mesmo sobre a mulher. "A mudança no comportamento feminino foi, sem dúvida, a grande revolução do século que passou. Mas eu não sou uma cientista social, alguém que possa discorrer sobre isso. Daí ter recorrido a autores que imprimiram ao tema o interesse e a transcendência da arte." Fernanda admite que o "feminino" é assunto de grande amplitude. "A gente pode olhar para o fenômeno do feminino sob muitos aspectos. Escolhi o da delicadeza, mas não como sinônimo de passividade ou fragilidade". E observa que que houve um desvirtuamento do conceito de delicadeza. "Delicado passou a ser o mesmo que franzino, a delicadeza passou a ser associada à fraqueza, debilidade ou frescura. E ela não é isso. A gente deveria buscar o sentido da delicadeza no humano. Para mim, delicadeza é civilidade, doçura, liberdade, voluptuosidade, gozo. É o direito à sensibilidade, ao diálogo, à compreensão e à arte." E a arte será o ponto de partida para o diálogo com o público nesses Encontros com Fernanda. "Que pode ocorrer até no meio da apresentação, entre um texto e outro, o roteiro não é tão rígido assim." O debate sobre a delicadeza como sinônimo de fragilidade poderá ser estimulado pelo texto de Cornélio Pena, "sobre alguém recluso, assustado com a vida." Perdoando Deus, de Clarice Lispector, fala sobre uma mulher que está muito feliz e, subitamente, tropeça num rato morto. "Aquele bicho asqueroso provoca então uma série de reflexões sobre como a felicidade, em sua plenitude, pode ser alienante." A delicadeza da voluptuosidade, do gozo pela vida também é tema da poesia de Hilda Hilst. E Fernanda Montenegro? Possuiu a desejada delicadeza? "Eu acho que não. Tenho meus demônios. Delicadeza é algo que a gente persegue, não é fácil de alcançar, mas deve perseguir." Encontros com Fernanda - Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Álvares Penteado, 112. Tel: 3113-3651. Sextas e domingos às 18h30; sábados, às 17h30 e 19h30. R$ 15,00. Até 7/4.

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