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FELLINI POR INTEIRO

Exposição dedicada ao cineasta vai além de sua filmografia

Por Roberta Pennafort e RIO
Atualização:

Em 1958, dois anos antes da ruidosa estreia de A Doce Vida, a modelo sueca Anita Ekberg chamou a atenção de Federico Fellini ao sair numa revista num flagrante fotográfico banhando-se na Fontana di Trevi. O diretor ficou mesmerizado e, para seu filme, escalou Anita, escreveu a cena do banho noturno no famoso ponto turístico de Roma e batizou - para sempre, sem saber - a figura do fotógrafo de celebridades de paparazzo. O strip tease no fim de A Doce Vida também foi inspirado numa cena da vida real. Surrealista, no entanto, deu-se numa festa na trattoria romana Il Rugantino. A protagonista era uma penetra, uma dançarina que, em busca de fama, pôs-se a dançar sensualmente e a se despir no meio do salão. Mais uma vez, fotógrafos, e outra página de jornal. As curiosas histórias por trás dos clássicos; os primeiros anos de vivência artística, como jovem cartunista, nos anos 30, recém-chegado da Rimini natal à capital italiana; os primórdios de sua filmografia, nos anos 50 (Mulheres e Luzes, que codirigiu, e Abismo de Um Sonho, considerados ambos pré-fellinianos, no que diz respeito à estética); o uso de passagens da própria biografia em sua arte (como em Amarcord).E também as mulheres de sua vida - Anita e Anna Magnani, musas, Giulietta Masina, esposa de 1943 até a morte, e atriz favorita; os anos nos estúdios da mítica Cinecittà; a parceira com os roteiristas Ennio Flaiano e Tullio Pinelli (A Doce Vida, Noites de Cabíria, Os Boas Vidas, 8 1/2, A Estrada da Vida), e com o compositor de trilhas Nino Rota - a vida e obra de Fellini (1920-1993) ocupam todos os espaços do centro cultural do Instituto Moreira Salles, no Rio, a partir de hoje. A exposição Tutto Fellini toma seis salas, galeria e corredor, com fotografias de cena e de bastidores, projeções, desenhos, reproduções de jornal e vinte filmes. O número de itens, trazidos de instituições na Itália, na Suíça e na França, chega a 400. A parceria é do IMS e do Sesc, no escopo do Momento Itália/Brasil. Em julho, a mostra, que já circulou pela Europa, chega à ao Sesc Pinheiros, em São Paulo.Uma mostra semanal de filmes (sempre às sextas-feiras, às 14 horas) acompanha a exposição. Abrange dos primórdios à maturidade da poética de Fellini, todos com comentários do crítico José Carlos Avellar, curador da programação do cinema do IMS. "É muito importante continuar discutindo a obra e assistir à parte menos conhecida, como Ginger e Fred (1986) e Entrevista (87). Fazendo isso, fica fácil perceber que Fellini estava sempre fazendo o mesmo filme, o que é um grande elogio", diz o curador, o francês Sam Stourdzé, diretor do Musée d'Elysée, em Lausanne, na Suíça, dedicado à fotografia. "Felliniano" virou sinônimo de barroco, exagerado, exuberante. E a exposição mostra excessos da gastronomia italiana, as obsessões de Fellini (a cidade de Roma, o fazer cinematográfico, a cultura popular). Uma vitrine vai exibir o Livro dos Sonhos, reunião de desenhos que ele fez entre os anos 60 e 90 a partir das imagens que vinham à mente enquanto dormia. "São lindíssimos, no traço e no colorido. E ele ainda escrevia uma transcrição do sonho (que está traduzida para o português), o que nos permite ver o início do processo criativo, do mundo onírico levado para os filmes", conta Priscila Sacchettin, assistente de curadoria do IMS.O público curioso vai ver os testes de figurino de Giulietta em Noites de Cabíria e as notícias que renderam as ideias para A Doce Vida (a abertura, o voo de helicóptero de um Cristo de braços abertos seguido por Marcello Mastroianni e Walter "Paparazzo" Santesso, também imitou a realidade).

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