07 de outubro de 2010 | 00h00
Essa força de Tropa de Elite 2 vem de sua qualidade de espetáculo cinematográfico mas, também, de um aumento de complexidade do personagem principal. Se em Tropa 1 o então capitão Nascimento ainda era um personagem um tanto plano, aqui ele ganha arestas. Promovido a tenente-coronel e transformado em subsecretário de Segurança do Rio de Janeiro, Nascimento (Wagner Moura) terá de reavaliar algumas de suas certezas e inclusive reconsiderar o tipo humano que mais lhe parece desprezível, o militante dos direitos humanos - Rodrigo Fraga (Irandhir Santos). Terá ainda de encarar o conflito pessoal com o filho adolescente.
Para adensar também sua trama, Padilha busca pontos de apoio na realidade - Fraga é inspirado em Marcelo Freixo, deputado do PSOL que presidiu a CPI das milícias no Rio; a jornalista vivida por Tainá Müller é uma referência ao repórter assassinado Tim Lopes, e por aí vai. Esse contato com o real é explicitado desde o início, quando se avisa que aquela é uma obra de ficção, mas que se parece demais com a realidade social brasileira.
Para quem lhe cobrava falta de contextualização em Tropa 1, Padilha responde indo do microuniverso do crime e da polícia ao macro da política em Tropa 2. No entanto, o didatismo da narração em off e um certo cartesianismo o impedem de dar conta das ambiguidades do tema. Não raro recorre a clichês (os policiais corruptos, o jornalista venal, etc.) e ao uso hábil de bordões de linguagem e violência buscando a catarse do público, mais do que a reflexão. Cai num impasse - se o problema da segurança é político, apenas uma resposta política pode enfrentá-lo. Mas como esperá-la, se o sistema é completamente corroído por dentro? Nesse sentido, o sobrevoo da câmera sobre Brasília é uma catarse a mais proposta ao público, o que pode ser ótimo em termos de administração de tensões e frustrações. Mas não significa necessariamente um ganho em compreensão.
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