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Fãs de James Joyce celebram em caminhada o Bloomsday

Eles homenageiam a data em que o personagem do escritor, Leopold Bloom, fez sua caminhada de 18 horas por Dublin, na Irlanda

Por Agencia Estado
Atualização:

Já é tradicional em todo o mundo: no dia 16 de junho, fãs do escritor James Joyce reúnem-se para celebrar a data em que o personagem Leopold Bloom fez sua caminhada de 18 horas por Dublin, na Irlanda. A história entrou para as páginas de Ulisses, uma obra inspirada e livremente adaptada da Odisséia, de Homero. Na época em que foi escrita, Joyce morava humildemente em Paris, em 1094. A obra só foi publicada em 1922 e influenciaria a literatura mundial através de uma linguagem inovadora, repleta de experiências lingüísticas e sonoras. Nesta sexta-feira, no Bloomsday, repetindo o sucesso da Virada Cultural, os atores da Cia. Nova de Teatro farão uma performance na Casa das Rosas. "O local, o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura dentro da Casa das Rosas, foi escolhido como uma forma de homenagear o poeta Haroldo de Campos. Posso dizer que foi ele o responsável por introduzir a obra de Joyce no Brasil e tomou a iniciativa de celebrar o primeiro Bloomsday", diz um dos organizadores do evento, Marcelo Tápias. Sérgio Portella interpretará Leopold Bloom hoje. Assim como na Virada, o ator fará uma pequena apresentação na Casa das Rosas, às 17 horas, e depois seguirá a pé até o Finnegan´s Pub, em Pinheiros, quando encontrará com a mulher do personagem, Molly. No trajeto fará a leitura dramática de pequenos trechos do capítulo 6 de Ulisses, episódio que Bloom acompanha o enterro de um amigo. Os leitores de Joyce são convidados a participar da caminhada. O pub é o ponto de encontro dos fãs do livro desde 1988. Como manda a tradição, quem aparecer por lá, receberá um livreto grátis, neste ano será o Visita ao Ades, editado pela Olavobrás, em virtude do tema escolhido. Também terá a oportunidade de ouvir trechos do livro, primeiro em inglês, e em outras línguas, como hebraico, russo e japonês. Um novidade desta edição: a audição da única composição musical de James Joyce. "Creio que é a primeira vez que alguém apresenta essa música. O próprio autor musicou um de seus poemas", diz o organizador. Em seguida, o grupo de Tápias fará uma apresentação de músicas tradicionais irlandesas. Os atores da Cia. Nova de Teatro farão uma montagem com os fragmentos do capítulo 6, com tradução inédita de Caetano Waldrigues Galino. A professora da USP, Lenita Maria Rimoli Esteves, fará um breve comentário sobre o clássico Finnegans Wake, mais especificamente sobre a dificuldade de traduzir uma obra tão complexa. Haroldo de Campos participa de forma virtual, fará a leitura de um trecho do livro via DVD, gravado especialmente para o Bloomsday. Para completar, uma evocação do fragmento do episódio das sereias de Homero, uma tradução feita por Campos, lida por Ivan de Campos, acompanhada pela cantora Madalena Bernardes e do músico Cid Campos. "A finalização será feita com cítara e uma leitura, em inglês, de John Milton." Tápias destaca que o Bloomsday além de valorizar a obra de Joyce, "muitas pessoas conhecem o texto a partir do evento", também é uma oportunidade de divulgar a cultura irlandesa. No Brasil, o Bloomsday é lembrado em outras cidades, como Belo Horizonte, Rio, Florianópolis, Natal. Veja fragmento do livro Finnegans Wake que será lido por Frederico Barbosa no Bloomsday Escurece, tingetinto, nosso funamburlesco mundanimal. Lama-laguna, aquela, à beira-rota, é montada pela onda. Avemaréa! Somos circunvelopardos pela urubscuridade. Homens e bestas friam. Desejo de não fazer nada, nemnada. Só lã. Zoono bom! Sec, surd, sôbr´ulha jazer, pss, sus pira rr. Ah! Onde se esconde nossa altanobre salve espôsestirpe? A doida da família está lá dentro. Haha! ZoÓsim, onde está ele? Em casa, que pena. Com Nancy Nana. Travetsetseiro. Cão correu no milharal. Cão? Não. Isegrim orelhas-murchas. Até lobo! E ovelhas sineiras param sem fôlego. Todas. A trilha do Demo ainda não se vê, rolenrola, cerro acima, vale abaixo, vereda ruim para vagamundos. Nem atraviés da estrelândia aquela banda de prata. Que era sobressoa? Longonga é-tarde. Só longe, scielo! Silúmida, sus vê-se. Silene surge. Oh! Lun! Arca? No é? Nada mexe a moita. Veredas volúvias da libéluaranha pousam paz nos juncos. Refolham quedos seus folhos. Garças tácitas. Vale! Orvalha! Tradução de Haroldo de Campos AUGUSTO E HAROLDO DE CAMPOS - Panaroma do Finnegans Wake São Paulo, Editora Perpectiva, 2001, p.93 19.º Bloomsday. Finnegan´s Pub. Rua Cristiano Viana, 358, 3062-3232. Hoje, 19h30. Grátis Matéria alterada às 15h15

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