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Fantástico e realismo se anulam

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Uma certa beleza rivaliza com alguns problemas nessa espécie de fábula natalina do talentoso diretor chileno Jorge Durán, radicado há muitos anos no Brasil. A história de Não Se Pode Viver sem Amor propõe a convivência de personagens que um dia se encontram por acaso no Rio de Janeiro. Uma mulher (Simone Spoladore) procura o pai de um estranho menino, capaz de materializar seus desejos. Há também um pesquisador que deseja se mudar para o exterior, mas para isso precisa desfazer um casamento, e um jovem advogado, desesperado atrás de dinheiro para tirar uma garota de programa da zona e casar-se com ela.Por um lado, os personagens são intensos, humanos, contraditórios. No entanto, alguma coisa entra em curto-circuito quando Durán procura fundir os registros realista e fantástico. Do menino que faz chover a uma ressurreição, são muitas as ousadias a quebrar esse código realista dominante, que, de maneira geral, estabelece uma ponte entre a ficção e seu público. Não é um dogma. Se Carl Dreyer traz um morto à vida em A Palavra, e Carlos Reygadas faz o mesmo em Luz Silenciosa, por que o recurso ao milagre estaria vetado a Durán? É que tudo depende do contexto para aceitarmos ou recusarmos alguma exceção radical à norma da experiência.Além disso, o filme conta com boas atuações, mas ao final derrapa numa série de encontros improváveis, camisa de força de roteiro que torna as soluções tão artificiais quanto a feliz cena final. Esse filme desencontrado não esconde de todo o talento do realizador, mas também não o desenvolve como poderia. É um retrocesso em relação ao seu trabalho anterior, o belo Proibido Proibir.

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