"Fantasmas" abre festival de Curitiba

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Por Agencia Estado
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A chuva - um forte temporal com raios e trovões - mais uma vez tornou-se convidada de honra na noite de abertura do Festival de Teatro de Curitiba. Como já ocorreu em outras edições, o temporal criou alguns efeitos especiais no Ópera de Arame na apresentação de Fantasmas, espetáculo que abriu a 10.ª edição do festival, ontem. Ter de abrir o evento no Ópera virou uma camisa de força para os organizadores que depois de alguns fiascos já se deram conta da necessidade de investir em montagens feéricas ou criadas especialmente para a noite. Foi assim com Fantasmas. Vitor Aronis convidou o diretor Rodrigo Matheus, um legítimo representante do chamado novo circo - que já havia feito um grande sucesso em outra edição do festival com Deadly - para criar um trabalho especialmente para a noite de abertura. "Mas a decisão final foi tomada há menos de um mês da estréia. Em tão pouco tempo eu não poderia criar um novo espetáculo", afirmou Matheus ao Estado. Como mesmo um curto esquete circense exige longo treinamento, o diretor sugeriu uma montagem que costurasse números já existentes, criados por algumas das trupes que integram a Central do Circo paulistana, da qual ele é um dos diretores. Aronis topou e o ousado Matheus concentrou esforços para dar "costura dramática" a cenas criadas isoladamente, que nenhuma ligação possuíam a não ser a linguagem circense. A idéia inicial do diretor era conceber um espetáculo grandioso, que tomasse conta do espaço com atores em trapézios e pernas de pau, cujo fio condutor fosse o drama do fantasmas que vagam por teatros vazios. Quando soou o terceiro sinal, às 21h35, um som pesado, fantasmagórico, tomou conta do teatro e os refletores começaram a varrer o espaço como se fossem holofotes em persguição de fugitivos, a noite parecia promissora. E mais ainda quando atores pendurados pelos pés em cordas saltavam das laterais do Ópera voando por cima das cabeças dos espectadores. Mas, talvez devido ao prazo exíguo, Matheus não conseguiu criar uma dramaturgia capaz de transformar em inserções dramáticas o que eram apenas números de circo. Houve uma tentativa, com personagens como Hamlet e Lady Macbeth vagando pelo teatro entre um número e outro. Mas se a idéia estava esboçada ali, a amarração dramatúrgica ficou pífia. Não importa. A trupe escolhida por Matheus segurou a atenção da platéia e arrancou vários aplausos em cena aberta com suas coreografias aéreas. Com quase uma hora e meia de duração, Fantasmas teve pontos altos e baixos. Entre os momentos surpreendentes, a cena em que vários atores cortavam o espaço em grupo, amarrados na mesma corda, balançando-se eretos, de pé, na abóbada no teatro, cada um lendo seu jornal, como se fosse um comportamento comum ler balançando-se a metros de altura. Outros, como um número de trapézio no qual três mocinhas faziam evoluções em quadrantes, eram menos criativos e acanhados para o Ópera. Fantasmas manteve o público que lotou os 1.636 lugares do Ópera ligado o tempo todo e conseguiu o milagre de evitar o já tradicional bochicho nos corredores. Participaram de Fantasmas as companhias La Mínima, Linhas Aéreas, Circo Mínimo (fundada e dirigida por Matheus), Circo Nosotros, Spasso Escola Popular de Circo e Le Plat du Jour.

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